Ainda sem previsão para possível reestruturação, a histórica praça dos Touros, na Calemba, que também já foi palco de grandes eventos culturais, é agora ‘sustentada’ por uma associação, três empresas e pequenos estabelecimentos de venda de comida. Ministro da Cultura diz, em declarações ao NJ, que a gestão da estrutura está sob tutela do Governo Provincial de Luanda. Espaço apresenta um aspecto incaracterístico, envolto na vandalização e promiscuidade.
● Francisca Gonga (textos) ● Carlos Muyenga (fotos)*
Localizada no bairro da Calemba, junto ao Cassequel, em Luanda, a praça de Touros encontra-se há muitos anos em estado de degradação. Consumida pelo lixo nos cantos da parte de cima, na parte de baixo existem três empresas e uma associação, nomeadamente, a hospedaria Kizomba, Ronda – empresa de segurança, a Bobines e a Associação Provincial do Carnaval de Luanda (Aprocal).
A nossa equipa esteve no local que, na década dos anos 1960, era usado para corrida de Touros, como contam alguns mais-velhos.
Ao entrarmos para a Administração do Complexo da Tourada, o kota Luís Jacinto recebeu-nos com cortesia, dando pequenas informações, pedindo que não ligássemos ainda o microfone. Minutos depois, entrou na sala o kota Rafael Cadete, funcionário da Administração desde 2003. Este, mais tranquilo e alinhando no mesmo diapasão do colega, afirmou que o espaço está sob a gestão do Ministério da Cultura, mas que há alguns anos não se pronuncia sobre uma possível reabilitação da Tourada.
“Até agora, o Ministério da Cultura não diz nada. Em 2013, o Ministério fez uma revisão, dizendo que ia demolir para ser reconstruída. De lá para cá, nunca mais se fez nada”, começou por dizer mais-velho Rafael Cadete, de 79 anos. O kota lembrou que o espaço foi construído para o efeito da Tourada (Corrida de Touros). Após a independência, a actividade paralisou. Posteriormente, passou a ser usado para eventos culturais.
Os serviços
“Vieram para cá muitos artistas. A partir de 2001 foi ocupada para os serviços de culinária. Depois passou-se a alugar para igrejas, mas como houve um acontecimento na Cidadela, onde morreram algumas pessoas, o Ministério cancelou. Vinham muitas igrejas”, lembrou.
Já mais descontraído, o kota Luís Jacinto interveio na conversa, reforçando que as igrejas contribuíam, de facto, na questão da higiene, o que não acontece com as empresas actuais. “Agora não se faz nada. Muitas vezes, nós, administração, é que contribuímos para tirar esse lixo”, disse.
Ao sairmos da administração, Luís Jacinto apresentou-nos a hospedaria ‘Kizomba’. Com 20 quartos e cerca de 40 funcionários, a hospedaria apresenta um aspecto estimável. Ar Condicionado por todo o lado e as funcionárias devidamente uniformizadas. Na saída, os kotas sugeriram-nos uma interacção com o Ministério da Cultura, deixando-nos as ‘portas abertas’.
Em Outubro, por ocasião da visita do ministro da Cultura às infra-estruturas do sector em Luanda, Filipe Zau referiu ao Novo Jornal que o dossier da Tourada está sob a alçada do Governo Provincial de Luanda.
“A Tourada é difícil ainda de gerir, porque chegou a um estado com gente lá dentro, negócios e interesses vários lá dentro. Mas penso que isto devem colocar ao Governo da Província de Luanda e não a mim”, confessou o governante.
Vendas de alimentos e actos de vandalismo
Além das empresas presentes na Tourada, na parte de cima, algumas senhoras comercializam refeições diárias, ao preço inicial de 1.500 kzs.
“Vendemos almoço e bebidas. Entrei como trabalhadora, depois de um tempo, cederam-me o espaço à dona. Gosto de vender aqui, porque o ambiente é diferente. Dá para sustentar a família. Não tenho problemas em relação à clientela”, frisou Isabel Ribeiro.
Enquanto preparava o almoço, a empreendedora revelou a existência de actos de vandalismo naquele local. “Às vezes fumam liamba e quando bebem não respeitam as pessoas. Fazem necessidades no espaço e temos que pagar para se fazer limpeza”, contou, evidenciando o desejo de ver melhorias no espaço.
Aos fins-de-semana, quando as senhoras não vendem, confidenciou-nos ainda a dona Isabel, pessoas há que pagam os seguranças e entram no recinto para satisfazer apetites sexuais.
Naquela manhã de 12 de Agosto, enquanto passeávamos para radiografar melhor a Tourada, cruzamo-nos com um segurança que, ao pedir anonimato, confirmou a existência de actos de vandalismo, mas que algumas pessoas usam também o espaço para a prática da ginástica.
Ver o espaço mais organizado é também um dos desejos do ‘operativo’. Ao sairmos do local, um dos moradores da zona confirmou também que os actos de prostituição e vandalismo são evidentes, mesmo aos olhos da polícia.
Kota Rafael Cadete confirmou a existência de jovens fumadores, espelhando que algum tempo a polícia fazia ronda pela madrugada.
“De fumo, aqui é o centro, posso confirmar que acontece. Já fomos para a esquadra. A polícia vinha às 3h da manhã, mas pararam. Quanto à prostituição, não”, disse, acrescentando a existência de roubos no espaço.
*NJ