“Os cidadãos estão revoltados com a actual situação do país e exigem a reposição da verdade eleitoral nas eleições gerais de 9 de Outubro”. O presidente do partido extraparlamentar ‘Podemos’, Albino Forquilha, reage assim às acusações proferidas pelo vice-comandante geral da polícia, Fernando Tsucana, de estrangeiros estariam a financiar as manifestações que se registam em Moçambique há mais de um mês.
Para o presidente do partido extraparlamentar ‘Podemos’ que sustenta a candidatura presidencial de Venâncio Mondlane nas eleições gerais de 9 de Outubro, as acusações de que há estrangeiros a financiar as manifestações pela verdade eleitoral são infundadas.
“Eu não sei que evidências tem eles para afirmar isso. Não sei a que estrangeiros estarão a referir-se. Nós não temos este conhecimento. Nós temos o conhecimento de que o povo moçambicano está a reivindicar. Aqueles que estão a balear os moçambicanos são estrangeiros? A não ser que sejam estrangeiros camuflados do lado de lá, do lado dos que têm arma”, disse o responsável.
Em declarações proferidas nesta terça-feira em Maputo, numa mesa-redonda sobre os caminhos para a “promoção da paz no contexto da tensão pós-eleitoral”, promovido pela ONG Sala da Paz, Albino Forquilha revelou também que Venâncio Mondlane, em parte incerta, deve participar no diálogo mediante condições de segurança.
“Há processos que procuram o candidato, há processos contra o partido ‘Podemos’ e nós estamos de facto a requerer que estas perseguições sejam anuladas porque nós precisamos, de facto, sentar à mesa e discutir e que haja a presença de Venâncio. Venâncio estaria cá no país e se não está é exactamente por causa das perseguições”, disse o presidente do ‘Podemos’.
“As manifestações vão continuar até que a verdade eleitoral seja reposta”, garantiu ainda o presidente do partido ‘Podemos’ para quem é preciso “responsabilizar” os autores da “fraude” das eleições gerais de 9 de Outubro.
Também presente na mesa-redonda, outro líder de oposição, o presidente do MDM, Lutero Simango, preconizou por sua vez a repetição das eleições gerais como “único caminho para o país sair da actual crise”, com a Frelimo na oposição.
“Hoje, as manifestações que se fazem sentir, todo o mundo já começa a acreditar que o nosso país está a precisar de reformas. Está a precisar, de facto, de mudanças. Estas eleições que ocorreram este ano, na verdade, elas foram manipuladas. Na verdade, os resultados que foram anunciados pela Comissão Nacional de Eleições não refletem a vontade dos eleitores expressa nas urnas”, acrescentou o líder e candidato presidencial da terceira força política de Moçambique.
Nesta segunda-feira, o candidato presidencial Venâncio Mondlane, que não reconhece os resultados eleitorais anunciados pela CNE, apelou a uma nova fase de contestação de uma semana, já a partir desta quarta-feira, em “todos os bairros” de Moçambique, com paralisação da circulação rodoviária entre as 8 e as 16 horas.
Segundo um novo balanço feito pela ONG moçambicana Plataforma Eleitoral Decide, pelo menos 76 pessoas morreram e outras 240 ficaram feridas por baleamento em Moçambique nestes 41 dias de protestos populares contra os resultados eleitorais. Ainda de acordo com esta organização, entre os dias 21 de Outubro e 1 de Dezembro, há registo de “mais de 1.700 feridos por causas diversas”, em todo o país, nestas manifestações e uma estimativa de “mais de 3.000 detenções”.
Recorde-se que no passado dia 24 de Outubro, a Comissão Nacional de Eleições anunciou os resultados das eleições gerais de 9 de Outubro, concedendo a vitória a Daniel Chapo, candidato presidencial da Frelimo, partido no poder, com cerca de 70% dos votos. De acordo com estes resultados colocados em causa tanto pelos partidos de oposição, como pela sociedade civil e inclusivamente observadores internacionais, o segundo candidato partido mais votado terá sido Venâncio Mondlane, com cerca um pouco mais de 20% dos votos, em terceiro lugar ficou Ossufo Momade, líder e candidato da Renamo, com cerca de 5% dos votos e, por fim, Lutero Simango, líder do MDM, com um pouco mais de 3% dos votos.
Estes resultados devem ainda passar pelo crivo do Conselho Constitucional que na semana passada anunciou que iria divulgar os resultados oficiais definitivos por volta do dia 23 de Dezembro.