Durante muitos anos, a África Austral alimentou no plano político, o mito do “the Frontline States” para justificar a manutenção do poder, alegando a chamada legitimidade revolucionária versus a legitimidade democrática.
Aqui o lema era “na Namíbia e na África do Sul está a continuação da nossa luta”.
Nos dias de hoje, e com o fim do apartheid, há mais de 30 anos, a armadura filosófico-ideológica que justificava a vontade de manter-se no poder, aos poucos começou a ruir, pois era efémera baseada em argumentos muito frágeis.
Em Angola, o partido que governa o país há cerca de 50 anos, só sobreviveu às eleições de 1992 e 2022 graças ao expediente da fraude e do uso da violência política.
Na África do Sul, desde 1994, o entusiasmo dos eleitores em relação ao ANC foi minguando até às últimas eleições em que das antigas maiorias qualificadas, o ANC nem sequer obteve os 50% de votos mais um, necessários para sozinho formar governo.
No Botswana, o partido que dirigiu o país desde a independência, acaba de ser enviado para a oposição e na posição n.° 3 com apenas quatro deputados dos 61 que compõem a Assembleia Nacional do Botswana.
Em Moçambique as últimas eleições criaram uma profunda crise pós eleitoral, pois o partido que governa há quase 50 anos, apesar da sua impopularidade, “conseguiu” obter 70% dos votos, o que provocou uma onda de protestos em todo o país. A pergunta para Moçambique é: Mas afinal quem votou na FRELIMO se o povo todo está a protestar?
Nas Ilhas Maurícias e nas eleições de 10 de Novembro do corrente ano operou-se igualmente uma profunda alteração na correlação de forças entre o poder e a oposição.
A Zâmbia, por força do seu processo de aprofundamenta da Democracia, encontra-se já numa situação em que a alternância já é parte da sua cultura política.
No Zimbabwe, depois da eliminação de política e física do MDC de Tsvangirai, o processo de democratização que estava muito avançado, conheceu um grande retrocesso com a chegada ao poder, por via de um golpe de Estado, de Emmerson Mnangagwa.
Hoje mesmo, 27 de Novembro de 24, na sequência das eleições em curso, e segundo analistas e observadores bem posicionados em Windhoek, o país pode conhecer um panorama político diferente dos últimos 30 anos, em que a SWAPO se instalou confortavemente no poder.
Entretanto ao longo dos 34 anos desde a independência, surgiram novos actores no teatro politico do país, como o PDM, Popular Democratic Movement e o IPC, Independent Patriots for Change, (Patriotas Independentes para a Mudança).
É este último actor que está em condições de ameaçar a hegemonia da toda poderosa SWAPO, partdo no poder desde 1990.
Seja como for, aos poucos a legitimidade democrática vai ganhando cada vez mais espaço na SADC.