O racismo no desporto é um reflexo da sociedade, onde o discurso de ódio e incitamento ao racismo no espaço público tem crescido nos últimos anos, mas tem um verdadeiro impacto nos atletas, como afirma o professor catedrático Sidónio Serpa em entrevista à RFI.
Por: Catarina Falcão*
Em Março, o jogador Vinicius Júnior chorou numa conferência de imprensa ao falar dos insultos racistas aos quais é sujeito quando sobe aos relvados espanhóis para actuar pelo Real Madrid. Mais recentemente, em França, o ministro do Desporto veio dizer que os jogos vão ser parados sempre que haja insultos racistas ou homofóbicos e que a equipa da casa pode mesmo perder o jogo caso os adeptos adoptem uma postura anti-fair play.
Para o professor catedrático Sidónio Serpa, especialista na psicologia do Desporto e o primeiro psicólogo a integrar uma equipa olímpica em Portugal, o desporto é um espelho da sociedade e com o discurso de ódio a crescer na política e ampliado nas redes sociais, também o racismo chega aos atletas fora e dentro de campo.
“O desporto é a expressão da sociedade onde se integra e onde correm os mesmos movimentos e os mesmos tipos de comportamentos, às vezes aumentados, outras vezes filtrados. Mas a base são os movimentos sociais. E é evidente, isto não é segredo para ninguém. que nós encontramos isso todos os dias, que a sociedade ocidental, que é aquela nos situamos, envolve uma agressividade crescente em vários domínios, designadamente no domínio político, onde as discussões não são discussões ideológicas teórica, como era tradicional, mas que se baseiam na oposição, na agressividade, nos insultos. O desporto dá a expressão emoções e emoções positivas e emoções negativas. Mas o desporto é eminentemente emocional. Associado a isto e, portanto, aqui gera-se já uma possibilidade de expressão de emoções e de que podem determinar comportamentos agressivos que sempre existiram, sempre existiram. Não seriam tão divulgados como são agora pela do acesso aos media e às redes sociais, mas também não eram tão ampliados pelas situações de crise não terem as características que têm situações actuais”, explicou o académico português.
Estes fenómenos sociais que se multiplicam em estádios um pouco por todo o Mundo, têm impacto nos atletas, quer seja na sua saúde mental como no seu desempenho desportivo.
“O impacto no atleta depende do atleta. Depende da sua capacidade de regulação emocional, de gestão, as situações de stress e tensão, da sua resiliência, Mas potencialmente tem uma carga negativa de instabilidade. É verdade que alguns atletas se podem deixar abater, digamos, e, portanto, ser negativamente influenciados por estes insultos. Mas também há outros que reagem da forma contrária, que é perante uma situação agressiva, vão puxar ainda mais energia para, através do seu desempenho maximizado, responderem aos insultos que são dados. Mas há aqui duas questões. Há uma questão ética e moral de respeito pelas pessoas que são os jogadores. E essa questão tem de ser protegida. Esse aspecto tem que ser protegido e tem que haver regulamentos. Os regulamentos existem, mas tem que tem que haver punição para quem não cumpre. E depois, por outro lado, existe o efeito do rendimento desportivo que do meu ponto de vista é secundário, porque em primeiro lugar está a pessoa, mas existe de facto esse efeito no rendimento desportivo”, concluiu Sidónio Serpa.
*RFI