A Polícia de Segurança Pública portuguesa promete “tolerância zero” a qualquer acto de violência ou de desordem caso se repitam os distúrbios das últimas duas noites em vários concelhos da Grande Lisboa, na sequência da morte de um homem baleado pela polícia num bairro do concelho da Amadora. A situação manteve-se calma durante o dia, mas há apelos à serenidade nas próximas horas nestes bairros.
Durante o dia sucedem-se apelos à calma à espera de perceber o que a noite trará. Alguma normalidade marcou o dia, com as crianças nas escolas e muitos residentes nos seus empregos como num dia comum, apesar do receio de novos distúrbios.
Quatro pessoas ficaram feridas, incluindo dois polícias que foram apedrejados, na sequência de 60 focos de distúrbios registados durante a última noite em oito concelhos da região de Lisboa.
A Polícia de Segurança Pública efectuou três detenções pela alegada prática dos crimes de dano qualificado e ofensa à integridade física qualificada. No total, foram danificados dois carros da polícia, oito automóveis e inúmeros caixotes de lixo.
Dois autocarros foram incendiados, um deles no bairro do Zambujal, no concelho da Amadora, de onde era originário um homem de 43 anos, de origem cabo-verdiana, que foi mortalmente baleado pela polícia já no bairro da Cova da Moura, depois de alegadamente ter fugido a uma patrulha policial.
Na versão da polícia, ao ser abordado pelos agentes, este homem “terá resistido à detenção e tentado agredi-los com recurso a arma branca”. Pelo menos duas associações anti-racistas contestaram a versão policial e exigiram uma investigação “séria e isenta”. Foi levantado um inquérito oficial ao caso pela Inspeção-Geral da Administração Interna.
A população das zonas mais sensíveis queixa-se de falta de experiência dos polícias que patrulham estes bairros da Grande Lisboa. A embaixada de Cabo Verde rejeita também as declarações públicas “que promovem a estigmatização de comunidades imigradas”.
Em declarações a diversos canais de televisão, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, pede que se evite uma escalada de violência, mas reconhece que há, hoje em dia, pouco tempo para analisar as razões para actuar a vários níveis.
“Como não há esse tempo, prevenir significa estar atento. Hoje é preciso actuar num tempo rapidíssimo em condições muito difíceis e para as quais as instituições não estão preparadas em muitos casos”, declarou à televisão SIC.