Depois de muitos dias sem serem vistos, após o ‘tiro de largada’ à madrugada do dia 19 de Setembro, os agentes censitários estão a andar em algumas artérias da cidade de Luanda. Ao contrário do que se esperava, o que se vê é um cenário de ‘estagnação’ total transversal em quase todo o território nacional, onde os agentes ficam o dia todo sentado numa esquina, a verem imagens do facebook nos tablets e a contagem propriamente dita não se faz.
Por: Telson Mateus*
Não se tem dúvidas de que o Censo 2024 é um “nado morto”, cujos resultados vão redundar em fracasso. Um conjunto de reclamações, desde aspectos logísticos ao número reduzido de meios de transportes, dominou a fase inicial do processo e continua até aos dias de hoje.
Aliás, a má organização, ou se preferirmos, a “desorganização organizada”, com a alimentação dos agentes censitários de má qualidade para se retirar dividendos de quem dirige o processo, bem como a incerteza de quem, de facto, deveria trabalhar no censo para no final receber um subsídio, criou um cenário propício para que essa contagem da população, 10 anos depois, não tenha os êxitos desejados.
O Instituto Nacional de Estatísticas (INE) garante que pelo menos 92 mil técnicos asseguram, em todo o País, pela primeira vez, através de suporte digital, o recenseamento geral da população e habitação 2024.
Contudo, numa constatação feita pelo NA MIRA DO CRIME, em algumas províncias, até ao momento, muitos cidadãos, não viram recenseadores nas suas cidades, vilas e aldeias. Os que viram, alguns só os viram nas ruas sentados em grupos e outros, bateram as portas, com a garantia de que voltariam no dia seguinte e de lá para cá, nunca mais receberam qualquer visita dos recenseadores.
Para além de Luanda, este é o cenário que nos chega das províncias do Bengo, Malanje, Benguela e Cabinda, onde alguns cidadãos, entre moradores e agentes censitários denunciaram estes factos e apresentaram reclamações sobre a falta de logística e meios de mobilidade dos técnicos envolvidos no processo.
Basta ver que, estamos há duas semanas para o término do Censo Populacional 2024, programado para 30 dias, onde agentes censitários deveriam andar de casa em casa para a contagem da população, mas infelizmente, os agentes censitários continuam ‘invisíveis’ em várias zonas do País.
Em entrevista recente, a responsável da Direcção de Informação e Difusão (DID) do Instituto Nacional de Estatística (INE), Eugénia Hulo, esclareceu que a invisibilidade dos técnicos censitários se deve à “priorização dos casos especiais”, nomeadamente desabrigados, prisioneiros e cidadãos em zonas fronteiriças.
Na capital do País, uma ronda efectuada nos municípios do Sambizanga, Kilamba Kiaxi, Viana, Cazenga e Cacuaco permitiu apurar a ausência dos agentes censitários, o que preocupa as famílias.
A camponesa Eva Almeida, de 82 anos, moradora do Bairro Popular, no Kilamba Kiaxi, há 54 anos, diz que regressou a casa após o anúncio do início do Censo, mas, até ao momento, não viu “nenhum recenseador”.
A anciã diz sentir-se “impedida de ir à lavra”, porque ainda não participou do processo de contagem.
Mariza César, de 38 anos, vive com o esposo e três filhos no bairro Hoji-ya-Henda, município do Cazenga.
A dona de casa refere que, “desde o dia do arranque, ainda não passou ninguém do Censo pela sua casa” e confessa estar a aguardar com expectativa, apesar de, até ao momento, não ter visto “nenhum agente no bairro, mas só pela televisão”.
Sob o lema ‘Juntos contamos por Angola’, o Governo mobilizou cerca de 30 mil milhões Kz para a realização do Censo 2024, valores que os agentes censitários dizem não estar a sentir pelas más condições a que são obrigados a trabalhar.
No ano passado, o INE estimou para Angola pelo menos 35,1 milhões de habitantes, tendo em conta a taxa de natalidade, mortalidade e outros factores para este Censo.
Só o governo vê o censo a decorrer de forma regular
No sentido oposto, o governo, por via do Jornal de Angola, diz que as acções de sensibilização continuam a ser intensificadas em todos os municípios do país para que a população tenha noção da importância social da iniciativa.
Numa publicação feita no pravda, o único diário angolano, contrariamente ao que o povo na rua diz e vê, o coordenador-adjunto da Comissão Municipal de Cacuaco de Apoio ao Censo 2024, garantiu que 193 recenseadores estão preparados para atender à população de Cacuaco no Recenseamento Geral da População e Habitação.
Diogo Leite Garcia disse que as acções de sensibilização continuam a ser intensificadas em todo o município, para que a população tenha noção da importância para o desenvolvimento nacional e para a formulação de políticas públicas mais eficazes, a fim de proporcionar um retrato real das necessidades.
“Igrejas, associações governamentais e não governamentais, assim como líderes comunitários, continuam a garantir que a população esteja informada e pronta para receber os recenseadores”, destacou.
Durante o último Censo, realizado em 2014, recordou, o município de Cacuaco contabilizava 1.071.146 habitantes. Este ano, continuou, estima-se que a população tenha crescido muito, podendo alcançar os 3 milhões de habitantes.
*NMC