China rejeitou pedido de financiamento de 600 milhões USD para a Refinaria do Lobito

Quando esteve na China, em Março deste ano, o Presidente João Lourenço, além do pouco que conseguiu nas negociações da dívida, regressou com um “não” ao pedido de financiamento da Refinaria do Lobito, estimado em cerca de 600 milhões de dólares.

Fontes familiarizadas ao processo disseram ao Valor Económico que as autoridades chinesas justificaram a recusa com a tendência crescente do stock da dívida externa angolana, facto que tem gerado críticas, mas também com a necessidade de evitarem acusações de que a China estaria a criar “uma armadilha da dívida” para Angola.

Juan Shang, pesquisador do Kwenda Institute, confirmou a nega das autoridades chinesas, admitindo mesmo estar entre as principais razões para que João Lourenço não tivesse participado da 9ª Reunião do Fórum de Cooperação China-África (FOCAC) que aconteceu na China no princípio de Setembro.

“Sim, o governo angolano solicitou o financiamento para a Refinaria, o governo chinês recusou, mas nada ainda está terminado, visto que existem alguns privados que apreciam o projecto”, confirmou Juan Shang.

Apresentando em 2007, o projecto de construção da refinaria do Lobito pela Sonangol foi suspenso em 2016. Em 2018, o Governo retomou o projecto, tendo sido anunciado vários operadores como sócios. No entanto, a Sonangol avançou sozinha e, em 2023, assinou um contrato com a empreiteira chinesa China National Chemical Engineering (CNCEC) para a construção da infra-estrutura.

Presidente desanimado

Por outro lado, Juan Shang, que também é responsável chinês do Centro de Estudos Africanos de Desenvolvimento e Inovação (CEADI), acredita que a ausência de João Lourenço no FOCAC afasta ainda mais a possibilidade de o governo chinês conceder novo financiamento ao país, pelo menos, “nos próximos dois anos”.

“É quase impossível [novos financiamentos], depois do posicionamento do Presidente João Lourenço. Foi praticamente o único presidente ausente, além da Argélia, mas, neste caso, foi por causa das eleições presidenciais que se aproximam e é normal que o Governo chinês tenha ficado descontente”, analisa.

O ministro das Relações Exteriores, Tete António, liderou a comitiva de Angola que participou do FOCAC e a ministra das Finanças, Vera Daves, foi uma das integrantes.

À margem do evento, Vera Daves, em entrevista a Reuters, deixou um aviso ao governo chinês sobre a necessidade de aumentar o seu financiamento a Angola sob pena de ver-se ultrapassada por concorrentes na venda de produtos a Angola.

No entanto, o financiamento chinês foi, muitas vezes, criticado por João Lourenço por ter o petróleo como colateral. Estas críticas, de resto, já mereceram respostas por parte de diplomatas chineses.

“É uma cooperação baseada na confiança, na parceria, na amizade que souberam, de maneira genial, fazer este arranjo de cré- dito por petróleo e também souberam ultrapassar as dificuldades e os riscos e retomar a cooperação.

A China precisa de petróleo, com- pra no mercado internacional, na Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Angola, Nigéria, em toda a gente.

Angola vende o seu petróleo para o mercado internacional. Para a India, Europa, Japão, Coreia e para a China. É um comércio feito em pé de igualdade, seguindo as regras do mercado de ‘oferta e procura’, ‘venda e compra’ com os preços justos.

Este arranjo oferece uma grande previsibilidade, uma grande certeza para Angola de ter um cliente certo, porque a China poderia muito bem comprar petróleo em outros parceiros, mas, com estes arranjos, está comprometida com Angola”, respondeu, em Fevereiro de 2023, em entrevista ao Valor Económico o então embaixador chinês em Angola, Gong Tao.

A dívida de Angola à China regista uma tendência decrescente desde 2017, ano que ter- minou a valer cerca de 23,205 mil milhões de dólares. No primeiro semestre deste ano, estava avaliada em cerca de 15,866 mil milhões de dólares.

Fonte: VE

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