A arte de destruir Camaradas – Armindo Laureano*

Quando se diz que um partido é o partido dos Camaradas, será que os seus militantes sabem o que é ser camarada? E os militantes mais antigos ainda mantêm o espírito de camaradagem de outros tempos?

Ou caímos na ridicularização do termo e do vale-tudo pela conquista ou manutenção do poder? Um camarada é um companheiro de luta, de causas e de jornadas. O MPLA vive hoje uma crise de camaradagem e é um partido que, pelo seu histórico, é uma máquina de triturar líderes, de os condicionar e de os afastar. Basta ver a história com líderes e/ou fundadores como Viriato da Cruz, Mário Pinto de Andrade, Hugo Azancoth de Menezes, Matias Miguéis, passando por Neto e acabando em José Eduardo dos Santos.

Até parece que está na sua génese ou é uma espécie de karma esta coisa de trucidar líderes. As chamadas “vacas sagradas” surgem sempre que necessária para mostrar que elas é que mandam e que determinam quem deve estar e como deve estar no poder. As “vacas sagradas” que limitaram e forçaram o afastamento de José Eduardo dos Santos (JES) são literalmente as mesmas que hoje procuram colocar João Lourenço entre a espada e a parede. Mas não foi por falta de tempo e de aviso, a governação de João Lourenço, durante os últimos anos, não lhes deu muitas escolhas ou alternativas. É que se JES acabou por ser afastado, ostracizado e abandonado, com João Lourenço, o que pretendem não deve ser muito diferente, sendo que desta vez agem em grupo como hienas para o deixar cair. O mais grave é que se está a entrar numa luta do poder pelos poder. O clima é tenso e o ambiente é de crispação e de ruptura.

Temos de ser mais camaradas com os nossos camaradas, temos de fazer da camaradagem um activo.

Armindo Laureano, jornalista e director do Novo Jornal. (DR)

O partido com jovens que confundem irreverência com sensacionalismo e populismo. Não se discutem ideias e nem se debatem os grandes temas.

Discutem-se agendas de promoção pessoal, de afirmação de agendas políticas e de interesses de grupos. Agora já se organizam marchas para pressionar quem critica o líder ou na agendas das reuniões partidárias já se colocam pontos como “felicitação do líder pelo seu regresso de férias”, ou outras demonstrações de lealdade. Tudo dentro das lealdades convenientes e caminhando para aquilo que passou a ser uma nova arte no seio do MPLA: A arte de destruir Camaradas.

Quem não alinha com uns é sinalizado, hostilizado e alvo de todo o tipo de assassínio de carácter por via de todos os meios possíveis, quem alinha com outros é acusado de ser indisciplinado e subversivo. Nesta altura, o discurso, o debate, o foco e a estratégia deviam ser outros. Os jogos de manipulação, desinformação e de especulação ganham espaço. O radicalismo, o extremismo e a intolerância reinam num ambiente que se vai tornando altamente destrutivo, capaz de destruir tudo e todos. A arte de destruir Camaradas vai-se tornando um modus vivendi, numa organização que vive com várias correntes e tendências internas. O MPLA é um partido que tem na sua génese uma máquina de triturar os seus líderes e este será sempre o seu karma e a sina dos seus líderes. Sendo agora impressionante a arte que se tem desenvolvido em destruir Camaradas. Pode ser um caminho muito perigoso para a divisão e fragilização interna. Os próximos tempos vão ser difíceis e também bastante exigentes.

*Director do Novo Jornal

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