Cunene é o epicentro da dracunculose no País. Após quatro anos sem o registo da doença em seres humanos, autoridades sanitárias confirmaram, nos últimos meses, 97 casos de infecção em animais. Preocupado, representante da OMS apela ao Governo para seguir as orientações básicas de prevenção.
Por: Diniz Kapapelo*
Angola continua entre os cinco países onde a dracunculose ainda não foi erradicada.
Entre 2018 e 2020, foram identificados três casos humanos na província do Cunene, tornando o território nacional endémico para esta doença.
Hoje por hoje, segundo Nzuzi Katondi, oficial nacional da Organização Mundial da Saúde (OMS) para as Doenças Tropicais e Transmitidas por Vectores, incluindo Doenças Tropicais Negligenciadas (DTN), a doença adoptou um novo ‘modus operandi’, tendo mudado a sua actuação.
“Felizmente, completámos quatro anos e quatro meses sem nenhum caso de dracunculose em seres humanos. Mas, infelizmente, agora estamos a registar com alguma frequência infecções em animais, mais propriamente em cães”, explicou o especialista.
Na linguagem médica, quando se fala de animais, usa-se sempre a expressão ‘infecções em animais’ e não ‘casos em animais’.
“A província do Cunene continua a ser o epicentro desta doença, por ser onde, desde 2018 até hoje, já confirmámos, no total, 100 casos. E nesses 100 casos, três são em seres humanos e 97 são infecções em animais”, contou.
Para o Oficial da OMS, que, para além da dracunculose, controla o programa de combate à tuberculose, essa situação coloca Angola, por um lado, num grande dilema e, por outro, torna-se num desafio muito grande para os profissionais de saúde e para os organismos ministeriais que concorrem para a erradicação dessa doença.

“Queremos erradicar uma doença numa zona onde só havia casos humanos, mas agora deparamo-nos com a ocorrência de casos de infecção em animais. Isso é um desafio muito grande, porque nos leva a pensar como mudar as metas estabelecidas”, notou, realçando que, embora seja muito sério Angola ter entrado para o grupo de países que notificaram casos de infecção em animais, como cães, há países como a Etiópia, por exemplo, que, para além desse animal doméstico, registou casos até em macacos.
“Há países como Mali e Tchade, que notificam casos também em gatos. Portanto, há alguma complexidade e dificuldade em erradicar a doença com essa mutação. E aproveito aqui para dizer que, por este facto, é necessário uma intervenção multissectorial, em que, para além da saúde, deverão ser encaixados os ministérios da Agricultura, Ambiente, entre outros”.

Estratégias para erradicação
A Organização Mundial da Saúde, segundo Nzuzi Katondi, geralmente define para as doenças tropicais negligenciadas cinco estratégias para a sua erradicação.
“E uma destas cinco estratégias tem a ver com a colaboração ou as acções veterinárias no interface homem-animal-ambiente. E, neste quesito, temos, obrigatoriamente, de colaborar com os veterinários, porque, no Cunene, no ano passado, confirmámos 87 infecções em animais, e todas as infecções ocorreram em cães”, referiu.
Este ano (2024), Nzuzi Katondi disse que a OMS e os seus parceiros confirmaram mais dois casos, mas ainda existem 35 suspeitos.
“Encaminhámos 36 amostras para Atlanta e já recebemos resultados de dois que saíram positivos. Mas aproveito também para informar que, desde que começámos a enviar casos para serem confirmados, recebemos sempre confirmação a 100%”, elucidou, reafirmando que, garantidamente, os 34 casos que restam poderão dar positivo.
“Nunca Angola mandou um caso suspeito que voltou negativo. Então, certamente, este ano vamos ter ou já temos, entre aspas, 37 infecções em animais”, sustentou.
Por este facto, advogou, a necessidade de o Executivo angolano velar pela colocação de água potável para as populações e saneamento básico, com vista à erradicação da doença.
A dracunculose é uma doença parasitária causada pelo dracunculus medinensis, um verme longo de cor branca que pode medir entre 60 e 100 centímetros. Actualmente, não existe tratamento para a doença, sendo a prevenção a medida mais segura e eficaz para evitar a sua transmissão.
*Novo Jornal