A tecnologia de edição genética chamada CRISPR permitiu aos cientistas eliminar partes do DNA de algumas células infectadas pelo HIV.
A novidade é ganhadora do prêmio Nobel e seu método funciona como uma tesoura molecular, literalmente cortando o HIV de uma célula.
Os cientistas responsáveis pelo estudo, da Universidade de Amesterdão, apresentarão os resultados em uma conferência chamada ECCMID, em abril de 2024, em Barcelona, Espanha.
Cura para o HIV?
Embora a descoberta seja significativa no campo da terapia genética, não significa, necessariamente, uma cura definitiva para o vírus.
James Nixon, da Universidade de Nottingham, disse à BBC: “É necessário muito mais trabalho para demonstrar que o que foi feito em poucas células pode, de fato, ocorrer no corpo todo”.
Além disso, para que o novo método tenha impacto na vida de pessoas portadoras de HIV, será preciso mais pesquisa e desenvolvimento, acrescentou Nixon.
Alguns especialistas também expressaram preocupações sobre possíveis efeitos colaterais, como ressaltou o Dr. Jonathan Stoye, especialista em vírus, do Instituto Francis Crick, em Londres.
Stoye afirmou à BBC que, devido às preocupações contínuas sobre os possíveis efeitos colaterais a longo prazo, mesmo se o CRISPR demonstrar eficácia, pode levar anos até que se torne uma “terapia padrão”.
Neste sentido, uma empresa de biotecnologia chamada Excision BioTherapeutics afirmou ter usado a ferramenta de edição genética em três pessoas que vivem com HIV e nenhuma delas apresentou efeitos secundários, informou a MIT Technology Review.
Outro desafio para os cientistas é a forma como o HIV funciona: faz cópias de si mesmo. Com isso, mesmo que o tratamento seja eficaz, o vírus pode entrar em um estado de dormência ou latência, e as células ainda podem abrigar o vírus do HIV.
Objectivo: eliminá-lo completamente
O ideal seria que os cientistas, no futuro, possam cortar as partes do DNA de todas as células do corpo que contêm HIV.
Enquanto isso, a terapia antirretroviral usada atualmente é realmente eficaz no tratamento do vírus, uma vez que impede a sua reprodução.
Embora não seja uma cura, a terapia antirretroviral ajudar as pessoas com HIV a terem uma vida longa e saudável, ao mesmo tempo que impede o vírus de contaminar outras pessoas.
O problema é que nem todos procuram ajuda ou têm acesso ao tratamento. De acordo com dados da ONU de 2022, cerca de 23% dos adultos e 43% das crianças que vivem com HIV não tiveram acesso à terapia antirretroviral naquele ano.
Além disso, durante a pandemia de covid-19, as barreiras ao acesso à terapia antirretroviral cresceram ainda mais, à medida que as pessoas com HIV temiam contrair a covid-19, sabendo de sua vulnerabilidade à infecção, informou o jornal BMC.