O Xadrez como Indicador de Desenvolvimento Humano – A Realidade Africana

A Federação Internacional de Xadrez (FIDE) celebra agora 100 anos desde a sua fundação, assinalando o dia 20 de julho como o Dia Internacional do Xadrez. Em Angola, o desporto ciência foi oficializado em 1979, há 45 anos. Entretanto, os 100 anos da FIDE não são os 100 anos do Xadrez. A arte é praticada na sua forma atual desde o século 14, há aproximadamente 700 anos, inspirando-se no Xaturanga, praticado na Índia desde o século 6. Até hoje, passaram-se 1424 anos desde o surgimento do Xaturanga.

Por: Muzangueno Alione

Como disse o Grande Mestre de Xadrez Gary Kasparov, “O xadrez acompanha a evolução dos povos”. E nas palavras de Albert Einstein, “é a ginástica da mente”. Vários estudos apontam a relação entre o Xadrez e o desenvolvimento intelectual e cultural das nações.

No nosso contexto, Angola teve um papel pioneiro na África Subsaariana ao classificar o primeiro Mestre Internacional em 1987, um passo antes de alcançar o título de Grande Mestre, que buscamos até a data. A nível da África Subsaariana, apenas um atleta consegui o título de Grande Mestre, o zambiano Amon Simutowe, sendo o terceiro jogador negro na história a obter esse título, após Maurice Ashley, da Jamaica, e Pontus Carlsson, da Suécia. Facto curioso é que nenhum dos negros que alcançaram o título de grande mestre reside em África, e desses apenas um nasceu no berço da humanidade, o zambiano que, no entanto, foi educado na Universidade de Oxford, nos EUA. As palavras de Gary Kasparov não podiam ser mais incisivas, “O Xadrez acompanha a evolução dos povos”.

Se olharmos para o panorama mundial, países como a Rússia e os Estados Unidos e China, lideram o top 3 do Ranking Mundial de Xadrez, e são igualmente superpotências, com sistemas educacionais robustos, infraestrutura desenvolvida e alta tecnologia. A Rússia, por exemplo, tem centenas de Grandes Mestres e uma média de classificação dos 10 melhores jogadores de 2739, enquanto os Estados Unidos têm 101 Grandes Mestres e uma média de 2715. Entre os primeiros 50 países a maioria são ocidentais e do leste da Europa, e no top 10 apenas dois estão fora dessa região, a China (3), Índia (4), ambos são civilizações antigas e grandes potências mundiais.

Mesmo dentro do continente africano o contraste suscita curiosidade, todos os Grandes Mestre da actualidade são da região do Magrebe (dizia-se África Branca), Egipto, Marrocos, Argélia e Tunísia. Em contraste, é visível se olharmos para os extremo de países como a RDC, com uma média de classificação de 1645 e sem nenhum Grande Mestre, enfrentam desafios significativos em termos de acesso à educação. Angola, com uma média de classificação de 2233, está em uma posição intermediária, o que reflete no geral a nossa posição no Índice de Desenvolvimento Humano.

Mas como disse o um dos maiores prodígios do xadrez em todos os tempos, o americano Paul Morphy,: “Triste época! É mais fácil desintegrar um átomo do que um preconceito.” Fim de citação. Talvez não seja a pele negra a razão da quase inexistência de grandes mestre africanos, ou o facto de residirmos na África Subsaariana, em que os indicadores de desenvolvimento apontam para a região mais pobre do planeta. Talvez, a razão seja mais profunda do que a melanina e a geografia, e claro a corrupção não pode ser descartada.

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