Número de crianças expostas ao trabalho infantil sobe no município do Cazenga

No bairro da Mãe Preta, distrito urbano do Hoji-ya-Henda, em Luanda, as crianças clamam por mais justiça social e preservação dos seus direitos consagrados na Constituição e nos tratados internacionais dos quais Angola ratificou e faz parte.

Por: Kivuila Samuel

Muitas crianças celebraŕam o Dia contra o Trabalho Infantil recolhendo restos de alimentos, metais e plásticos para levar nas casas de peso onde os referidos materiais são vendidos para reciclagem, numa dura e desafiadora realidade que coloca em risco a vida dos petizes.

Meninas e meninos são frequentemente obrigados a trocar os brinquedos e os estudos para ajudarem os pais na luta pela sobrevivência, enfrentando situações que comprometem o seu desenvolvimento físico, emocional e intelectual.

Este é o caso do menino João de 12 anos de idade que diariamente acorda as 5 horas da manhã para trabalhar no mercado informal e armazéns carregando caixas pesadas, numa rotunda de 10 horas por dia para levar comida em casa e comprar algumas roupas.

“Tenho que ajudar minha mãe. Ela não consegue sozinha arcar com as despesas de casa” conta João carregado de lágrimas expressando uma maturidade precoce imposta pelas circunstâncias da vida.

A falta de oportunidades de emprego para os adultos e a ausência de políticas públicas eficazes para a protecção da infância resultam na inserção precoce das crianças no mercado de trabalho, muitas vezes em condições degradantes, justifica o sociólogo José Kutunga para quem a exploração infantil não apenas priva as crianças da sua infância e de uma educação adequada, mas também as expõem a riscos, sendo fundamental investir na educação de qualidade, criar programas de apoio para famílias em situação de vulnerabilidade.

O psicólogo Pedro Almeida defende, por sua vez, que o Estado precisa criar mecanismos de protecção dos direitos humanos e das crianças em especial de acordo com os 11 compromissos. Por este facto apelou a adopção com urgência de políticas públicas eficazes e a solidariedade da sociedade.

Maria, de 14 anos, trabalha como doméstica desde os 10 anos. Não estuda porque tem de priorizar os seus irmãos menores. Além das longas jornadas, ela relata casos de abuso e maus-tratos.

“As vezes me tratam mal, me xingam, sou espancada toda vez que cometo erros que o único desejo que tenho é sair dessa vida”, desabafa a adolescente Maria com um olhar desesperado.

Em conversa com Joaquim Pedro, de apenas 11 anos que trabalha no mercado informal há dois anos como recolhedor de metais e ferros, referiu que no trabalho que faz não recebe um valor específico porque depende muito da quantidade de metais que consegue levar às casas de pesagem.

“Quanto menor for a quantidade dos seus objectos, menor é o dinheiro a receber, cujo valor não ultrapassa os 5 mil kwanzas”, notou, realçando que trabalha apenas para sustentar os irmãos que passaram a depender dele depois da morte dos seus pais.

“Já pensei em deixar tudo e fugir, mas não posso abandonar este trabalho porque a minha família depende dele”, disse o menino Joaquim com olhos cheios de lágrimas.

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