Marco Histórico do Cazenga entregue à degradação por falta de gestão

Enquanto não se definir a gestão do Marco Histórico do Cazenga (se é tutelado pelo Ministério da Cultura ou da Defesa), o município diz fazer apenas trabalhos paliativos para se evitar a degradação. Sobreviventes manifestam-se insatisfeitos com a actual imagem do Monumento e pedem intervenção urgente.

Por: Dulcineia Lufua*

A indefinição da titularidade e gestão do Marco Histórico do Cazenga, inaugurado em 2005 para homenagear os heróis do 4 de Fevereiro, tem levado a que o local esteja num avançado estado de degradação aos olhos de todos. O recinto, que custou ao Estado cerca de cinco milhões de dólares, hoje tem a vedação praticamente destruída, grande parte das placas de bronze com os nomes dos heróis danificadas, jardins completamente secos e os mosaicos arrancados, tal como constatou o Novo Jornal no local.

Fontes deste jornal contam que a questão da indefinição da gestão do espaço não é de hoje. Até agora não se sabe ao certo se o Marco Histórico do Cazenga, localizado no município com o mesmo nome, é tutelado pelo Comité 4 de Fevereiro, Ministério da Defesa Nacional, Antigos Combatentes e Veteranos da Pátria ou pelo Ministério da Cultura e Turismo. Pelo estado de degradação, o recinto já foi considerado “um filho sem pai”, pela então administradora adjunta para Área Técnica, Infra-estrutura e Serviços Comunitários do Cazenga, Madalena Fernando.

Em 2020, numa entrevista ao NJ, o ex-administrador do Cazenga, Albino da Conceição, disse que o avançado estado de degradação que o Marco Histórico do Cazenga apresenta não é um problema da administração.

Na altura, o responsável salientou que a gestão do Marco Histórico – local que simboliza o início da luta armada pela Independência de Angola -, é da responsabilidade do Ministério da Cultura e Turismo, mas todos os esforços evidenciados, na tentativa de ouvir aquele organismo, foram infrutíferos.

Entretanto, uma fonte conhecedora do dossier, disse que o espaço é da responsabilidade do Ministério da Defesa, por se tratar de um monumento que representa a história da luta armada nacional, como os demais monumentos, nomeadamente, o Museu Nacional de História Militar e o Monumento Histórico de Kifangondo.

Sobre o assunto, uma fonte do Ministério da Defesa, em conversa com o NJ, confirma a tutela, garantindo mesmo que o monumento já foi entregue àquela entidade, mas ainda não foi oficializado. “Era o único monumento que faltava”, garante.

Entretanto, outro alto quadro daquele organismo castrense diz desconhecer a informação. Explica que entre os monumentos geridos pelo Ministério da Defesa estão apenas o Museu Nacional de História Militar, em Luanda, o Monumento Histórico de Kifangondo, em Cacuaco, e o Memorial à Vitória da Batalha do Cuito Cuanavale, na província do Kuando-Kubango.

“No mês passado, quando realizamos as jornadas em alusão ao 4 de Fevereiro, Dia do Início da Luta Armada, tivemos de pedir autorização à administração do Cazenga. Então, são eles que se devem responsabilizar pela manutenção do espaço”, disse a fonte. No jogo do ‘empurra em empurra’, acusa: “Depois de degradarem o monumento o município quer fugir da responsabilidades”.

«Administração do Cazenga apenas controla por estar na sua jurisdição»

O director Municipal do Turismo e Cultura do Cazenga, Amadeu Correia, reitera que não é o Cazenga que gere o Marco Histórico.

“O que se passa é que administração municipal apenas controla o monumento, por estar na sua zona de jurisdição”, explica.

Já no passado, a ex-administradora adjunta para Área Técnica, Infra-estrutura e Serviços Comunitários do Cazenga, Madalena Fernando, numa entrevista à RNA, explicou que, como gestora do território, a administração tem garantindo apenas os serviços mínimos, como limpeza, poda de árvores e a sucção das águas durante o período chuvoso.

No recindo do Marco Histórico está um monumento com uma escultura de 24 metros de altura, duas estátuas de seis metros cada, simbolizando as figuras dos comandantes Paiva Domingos da Silva e Imperial Santana, empunhando catanas, em posição de ataque.

Sobreviventes pedem mais valorização do espaço

Os sobreviventes do 4 de Fevereiro pediram maior atenção ao monumento que simboliza o Início da Luta Armada de Libertação Nacional.

Citada pelo Jornal de Angola, Engrácia Cabenha, Rainha do 4 de Fevereiro e presidente da Associação dos Heróis desta gesta, lamenta que as condições em que se encontra o Monumento não orgulham os que lutaram e muito menos os angolanos, de modo geral.

A Rainha revela que, pelo estado de abandono em que se encontra o monumento, não se revê na actual imagem do Marco Histórico do 4 de Fevereiro. “Não estamos satisfeitos. Este espaço, que deveria ser de visitas para conhecimento da História, tornou-se num local de brincadeira das crianças. Faço um apelo ao senhor ministro da Defesa Nacional, Antigos Combatentes e Veteranos da Pátria para que olhe para este monumento”, acrescentou.

Amadeu Calemba, outro nacionalista, considera ser tempo de dedicar maior atenção aos sobreviventes da Luta de Libertação Nacional e honrar a memória daqueles que deram o seu máximo para que Angola conquistasse a liberdade e fosse dona e senhora do seu próprio destino.

“Este é um Marco Histórico e não um local qualquer. A Polícia Nacional está aqui próximo, mas as crianças saem da escola e ficam aqui para brincar, como se fosse um parque de diversão”, lamentou o sobrevivente1.

Acrescentou que o local de homenagem aos Heróis da Luta de Libertação Nacional deveria merecer outro tratamento.

*NJ

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