À medida que o sol nasce sobre Angola em 2024, iluminando um país de contrastes e esperanças renovadas, os angolanos preparam-se para mais um dia na dança da vida. Não é apenas o pão que sustenta o homem nesta terra rica em cultura e recursos; é a promessa de um futuro onde cada passo conta, cada movimento é calculado, e cada ritmo é sentido no coração pulsante da Nação.
Por: Muzangueno Alione
O relatório do Conselho Executivo do FMI, sob o olhar atento do Artigo IV, revela uma coreografia económica complexa. As conclusões divulgadas recomendam que “as autoridades angolanas deem prioridade ao reforço do capital humano, à melhoria do ambiente empresarial e ao acesso ao financiamento, bem como às questões relacionadas com governação e combate à corrupção e branqueamento de capitais”. Dito de outro modo, a descida do pão e da coxa será mera consequência de reformas institucionais e comportamentais, já tentadas, mas que infelizmente têm encontrado resistência de muitos acostumados com o ganho fácil na “república do biolo”, em que o “cabrito come onde está amarrado, abre o olho”.
Segundo o FMI, em 2024 o PIB salta para 2,6%, mas a inflação ruge a 22% como uma palanca-negra faminta, aliás, famintas estão as famílias que para comprar têm que vender, às vezes até a dignidade, e se não é só do pão que o homem viverá, também ninguém vive de números e projecções, especialmente no nosso contexto em que o descompasso da dança entre o PIB e a inflação é abismal. Crescer, aqui, é apenas um eufemismo, porque não há solução à vista para a subida galopante dos preços.
Mesmo que ninguém viva das projecções, 37 milhões de almas angolanas é um número a considerar, e nesse caso os números não mentem. A grande maioria parou de esperar as prometidas reformas estruturais – a diversificação da economia, a aposta no capital humano, o combate a corrupção, etc. Querem já, para ontem, a descida do preço do pão e da cocha. Talvez, no final, é só do pão que o angolano vive, e a voz do povo não é a voz de Deus.
Como não é só do pão que vive o homem, não será com os nossos belos rios que pagaremos a dívida que já está a 88% do nosso PIB. Quem mais vai emprestar dinheiro a um país altamente endividado e com uma rentabilidade de trabalho tão baixa dos seus cidadãos? Talvez as grandes potências (China e EUA) que olham para os povos na perspetiva de instalarem interesses geoestratégicos, e tudo depende do quanto da nossa soberania e dignidade estamos dispostos a sacrificar. Mas não é só do pão que vive o homem, e sabemos que a soberania, o orgulho e a dignidade não matam a fome, mas não devemos pensar o país com a barriga.
Continuando a dança, com uma inflação de mais de 22%, nem o kuduro do Gibelé nos ajuda, muito menos a kizomba e o semba. Talvez vamos precisar trocar os sapatos de dança e a nossa alegria inocente por ténis de corrida, porque a vida vai ficar cara. Mas que tal trocar por botas de campo e o suor das lavras? Se os líderes nos inspirarem, quem sabe transformamos o desespero em esperança e o conformismo em acção? Quem sabe se de cima vier o exemplo de transparência e prestação de contas aceitaremos mais uns anos de aperto com uma dieta fiscal rigorosa e um regime de exercícios estruturais. Talvez seja hora de Angola considerar um detox económico, e como disse um economista, “reduzir os fritos”, também conhecidos como gastos públicos desnecessários em bens e serviços.
No final, tudo depende de nós. Mas diz a sabedoria Tchokwe que “Uli ku lutwe mwe wa tokessa jila”, ou seja, quem está em frente (da coluna numa caminhada) é quem faz perder o caminho.