O Presidente da República de Portugal diz que é preciso, inevitavelmente, “transparência no saber quem lidera e gera o quê na comunicação social, com que projetos editoriais, com que modelos, com que perfis e viabilidade de dar vida ao setor”.
Marcelo Rebelo exigiu aos proprietários das empresas da comunicação social que sejam transparentes em relação a “quem ou o que” lideram e que “estejam em constante convergência, interação” com os jornalistas nos momentos de decisão. As declarações foram feitas no discurso de abertura do 5.º Congresso dos Jornalistas.
O Presidente português começou por traçar a evolução histórica do jornalismo para resumir a ideia de que, numa economia pequena, com um “tecido empresarial mais virado para exportações”, a “banca em compasso de espera de 2013 até 2019” e “dificuldades em reajustar modelos e culturas mediáticas do final do século XX e começo do século XXI”, tem de haver, inevitavelmente, “transparência no saber quem lidera e gera o quê na comunicação social, com que projetos editoriais, com que modelos, com que perfis e viabilidade de dar vida ao setor”.
Por este facto, pede maior convergência entre gestores e jornalistas através de uma “plataforma de diálogo” que permita aos jornalistas ter maior poder de decisão. “Houve a certa altura alguns passos, mas pararam cedo demais”, afirmou.
Presidente quer Estado a intervir no debate
Marcelo pede também que o Estado assuma responsabilidades neste debate, não só por haver “meios públicos, históricos e muito importantes”, mas também porque “só numa base de entendimento amplo de forças e hemisférios doutrinais, ideológicos e políticos diferentes, é possível abordar esta temática de regime”.
Esta temática deve ser abordada, defende Marcelo novamente, “com transparência e com critérios gerais e abstratos, sempre que possível, olhando do lado de espectadores, ouvintes e leitores” e com planos de literacia focados nos jovens, na cobertura de públicos diferenciados ou “na garantia do papel dos meios públicos de comunicação social”.
Tudo isto “numa atenção especial à situação específica dos jornalistas, sem os quais – é bom que se perceba isto em tempo em que se sonha com comunicação social sem jornalistas – não há jornalismo”.
Estas declarações surgem horas depois de se saber que o fundo detentor do grupo Global Media vai travar os pagamento dos salários até uma decisão da ERC e do tribunal.
“O World Opportunity Fund (WOF) transmitiu-me no dia de hoje a sua indisponibilidade em efetuar qualquer transferência, sem que o Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) conclua o processo administrativo autónomo para a aplicação do art.º 14 da Lei da Transparência, e que pode eventualmente resultar na inibição do exercício dos direitos de voto por parte do WOF”, afirma o presidente executivo (CEO) do GMG em comunicado.
Jornalistas não desistem, não desmobilizam, não renunciam
Marcelo reconheceu também os esforços desta classe profissional para se “reinventar todos os dias” para não desaparecer. “O jornalismo é obrigado a apagar-se tantas vezes na programação televisiva ou radiofónica para ela se ajeitar nos conteúdos às alegadas exigências da sobrevivência. O jornalismo reinventa-se todos os dias nos antiquíssimos, antigos, novos e novíssimos meios para tentar não desaparecer”.
Numa fase de reconhecida crise no setor, o Presidente da República sublinha a forma como os jornalistas “como sempre, afincam-se à sua paixão e não desistem, não desmobilizam, não renunciam”.
“Esse é o grande significado deste Congresso. Ninguém arreda a pé, como nos ajuntamentos estudantis de outros tempos. E eu compreendo-vos e admiro-vos por isso. Nunca tendo sido jornalista de carteira, foi muitas décadas de alma”, afirmou.
Concluiu, lembrando Abril, afirmando que “aqueles que desconhecem Abril, ou têm saudades do pré-25 de Abril que não conheceram, ou que reconstroem na sua imaginação sem nunca o terem podido conhecer nem compreender, passarão, serão fugazes, e o 25 de Abril ficará. Ficará sempre. E com ele a democracia sempre. E com ela o jornalismo sempre”.