A Polícia Nacional de Angola (PNA) diz estar a trabalhar arduamente para encontrar autores da morte de Laurindo Vieira, a terceira vítima mortal em menos de um mês na via do Patriota. Dúvidas sobre reais circunstâncias deste crime adensam-se
O Comando provincial de Luanda da Polícia Nacional assegura estar a “trabalhar arduamente” para encontrar e responsabilizar criminalmente os autores do assassinato na via pública do professor e reitor da Universidade Gregório Semedo, Laurindo Vieira, de 60 anos, cuja morte abalou Luanda, na tarde desta quinta-feira,11.
Fernando Calueto
Após milhares de partilhas do vídeo em que o académico e político do MPLA aparece estatelado na estrada, após ser baleado, este caso ganhou dimensão de preocupação nacional e voltou a lançar dúvidas sobre as garantias de segurança na cidade de Luanda repetidamente feitas pelas autoridades.
O chefe do departamento de comunicação institucional e imprensa do Comando Provincial de Luanda da Polícia Nacional, superintendente, Nestor Goubel, disse que o professor e reitor da Universidade Gregório Semedo foi abordado por elemento a bordo de uma motorizada, com recurso a arma de fogo, e dispararam sobre os membros inferiores da vítima.
Segundo a Polícia Nacional, Laurindo Vieira chegou já sem vida à unidade de saúde para onde foi socorrido por populares, depois de ter perdido muito sangue devido ao local do ferimento, uma artéria vital.
A polícia não sabe, por enquanto, precisar se o académico saía de facto de uma instituição bancaria, na rua do Patriota, mas assegura que trabalha para o esclarecimento deste caso que abalou Luanda esta quinta-feira, estado assim em aberto as circunstâncias desta morte, porque alguns relatos apontam para um assassinato sem ocorrência de assalto, deixando dúvidas sobre as motivações por detrás do crime.
Pessoas próximas à família de Laurindo Vieira, incrédulas, disseram à TV Zimbo que o académico não sofreu qualquer assalto, pois os autores deste episódio, estranhamente, não levaram nada de valor do local.
Várias pessoas, sobretudo nas redes sociais, asseguram ser morte encomendada, estando este rumor a ser alimentado pelo facto de uma nota interna da Polícia Nacional ter surgido em público a identificar Laurindo Vieira, que é dirigente do MPLA, como membro da “secreta” militar, como também é conhecido o Serviço de Inteligência e Segurança Militar (SISM).
O facto dos autores apenas dispararem à queima-roupa contra o também sociólogo e comentador da TV Zimbo, particularmente do espaço “revista zimbo”, sem qualquer roubo, está a ser encarado pela população como estranho.
Todavia, o facto de o disparo ter sido dirigido para a perna pode indiciar antes que os autores do crime pretendiam neutralizar a vítima para efectuar o roubo, mas algo inusitado levou-os a fugir do local.
Isto, porque não só é mais difícil, se a intenção for provocar a morte, atingir a veia principal da perna, como disparar contra a cabeça ou o coração da vítima é mais evidente e fácil para atingir esse fim.
Nestor Goubel, o porta-voz da Polícia Nacional em Luanda, assegura que estão em curso diligências conduzidas por especialistas da DIIP, SIC e dos Serviços de informação policial, no sentido de localizar aos autores do crime e responsabilizá-los criminalmente.
Os alegados autores foram filmados quando deixavam o local numa motorizada e depois, também nas redes sociais, surgiu um segundo vídeo, identificando dois transeuntes numa motorizada como os assassinos, sendo, no entanto, pessoas diferentes, o que motivou a admissão da possibilidade de estar em curso uma estratégia para confundir os investigadores.
Mortes somam-se naquela zona de Luanda
Laurindo Vieira é a terceira vítima mortal em menos de um mês, na via do Patriota, no município do Talatona.
Os três homicídios ocorreram em circunstâncias idênticas e com o mesmo “modus operandi”, e todos foram feitos à luz do dia e com recurso a arma de fogo.
Uma das razões para esta realidade é a fraca cobertura através de câmaras de vigilância controladas pelas autoridades nesta zona da capital angolana.
Até ao mês de Dezembro último, a Polícia Nacional assegurou ser calma e estável a situação de segurança pública em Luanda.
Segundo o director da Direcção de Segurança Pública e Operações da Polícia Nacional de Angola (PNA), comissário Orlando Bernardo, a situação é calma e controlada a nível do território nacional, realidade confirmada pelos números de crimes registados e em decréscimo nos últimos anos.
Entretanto, em função dos recorrentes assaltos em Luanda e não só, muitos cidadãos discordam ser esse o quadro real na capital.
Laurindo Vieira, era formado em Psicologia e Sociologia, foi um académico que se tornou mais conhecido depois de assumir a cadeira de comentador na TV Zimbo, foi reitor da Universidade de Luanda e, até à data da sua morte, exercia funções de reitor da Universidade Gregório Semedo.
Natural da província do Uíge (Dange-Quitexe), Laurindo Vieira começou o seu percurso como professor universitário no ISCED de Luanda.
Em nota de condolências, o Ministério do Ensino Superior, Ciência, Tecnologia e Inovação, assegura que o professor Laurindo Vieira foi um académico que dedicou a sua vida à educação, que a sua morte enluta não somente a sua família, mas toda a comunidade académica.