Zâmbia: “Presidente Hakainde Hichilema é o homem do Ocidente”

A oposição zambiana alerta para o que afirma ser o agravamento da perseguição política protagonizada pelo UPND, o partido no poder. E critica o silêncio da comunidade internacional.

Chishala Kateka, líder dopartido da oposição zambiana New Heritage, ou nova herança numa tradução livre, manifestou recentemente a sua preocupação perante o que afirma ser a perseguição política por parte de membros do partido governamental Unido para o Desenvolvimento Nacional (UPND). Segundo disse Kateka à DW, nas últimas semanas foram “detidas, brutalizadas e simplesmente assediadas ou intimidadas” várias figuras da oposição.

Kateka e outros políticos da oposição afirmam que as detenções têm motivações políticas. Estão também preocupados com o silêncio da comunidade internacional sobre esta questão, tanto mais que no passado, afirmam, muitos países criticaram fortemente as violações dos direitos humanos na Zâmbia, especialmente durante a presidência de Edgar Lungu.

Um relatório publicado à socapa

A opinião é partilhada pelo especialista em relações internacionais Kellys Kaunda, que, recentemente, trabalhou como diplomata na embaixada da Zâmbia na Alemanha. Kaunda refere que o silêncio é especialmente notório desde que o novo Governo entrou em funções. “Num relatório sobre a governação do país, publicado pela Embaixada dos Estados Unidos da América em 2022, Washington constata que houve muitas violações dos direitos humanos, quer nos meios de comunicação social, quer na brutalidade policial, quer nas execuções extrajudiciais”.

Mas, ao contrário do que acontecia no passado, desta vez o embaixador norte-americano não convocou uma conferência de imprensa para detalhar publicamente as acusações. “Limitaram-se a partilhar o relatório”, explica Kaunda.

O candidato da oposição à presidência, Emmanuel Mwamba, considera que a mera publicação do relatório, que abrange alguma das perseguições sofridas, é insuficiente. “Desafio o embaixador dos EUA a apresentar publicamente as conclusões deste relatório sobre a Zâmbia, como têm estado a fazer desde 1961”, exigiu.

A repressão aumenta na Zâmbia, acusa a oposição. (©SALIM DAWOOD/AFP/Getty Images)

África rejeita crítica aos direitos humanos

Muitas vezes os países africanos reagem de forma negativa às críticas do Ocidente relativas aos direitos humanos, que consideram uma intromissão nos assuntos africanos. Mas Kaunda diz que é pouco provável que seja essa a razão do silêncio do Ocidente. A comunidade internacional tende a favorecer alguns políticos e o atual Presidente da Zâmbia, Hakainde Hichilema, é um deles, diz o especialista. De modo que o Ocidente evita declarações que possam indicar que Hichilema perdeu as suas simpatias.

Kaunda defende que os países ocidentais estão dispostos a fechar os olhos enquanto os seus interesses não forem ameaçados. “Quando os países ocidentais têm interesse em dizer o que pensam, não têm receio da reação país anfitrião criticado. Por exemplo, defendem com vigor os direitos LGBTQ e nunca se preocuparam com a reação do público africano”.

Expediente político?

O mesmo se aplica aos interesses geopolíticos. “Quando querem que um determinado Governo desapareça, não hesitam em exercer pressão. Falam de questões de corrupção, de violações dos direitos humanos e podem apoiar abertamente quem quiserem”.

O analista refere que, a dada altura, o anterior Presidente Edgar Lungu caiu em desgraça e foi percetível que o Ocidente queria que fosse substituído. “Para mim, o que é claro nesta altura é que o Presidente Hakainde Hichilema é o homem deles”, remata

Dito isto, Kaunda prefere que diplomatas não comentem assuntos internos dos países onde trabalham, para evitar criar a perceção de posições tendenciosas, como acontece agora na Zâmbia. Os zambianos são perfeitamente capazes de resolver os seus próprios problemas, afirma o especialista.

Fonte: MSN | DW

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