“Invasão muçulmana” – Ismael Mateus

Há muito que segmentos da sociedade angolana tem dificuldades de perceber que caminho o Governo angolano pretende seguir no caso da “invasão muçulmana” em Angola.

A estratégia da não-decisão, silêncio, indecisões e a falta de medidas de contenção que, aparentemente, foi adoptada pelo Governo acaba sendo também uma forte mola impulsionadora da invasão silenciosa de imigrantes muçulmanos de países islâmicos. O processo começa na facilidade com que se instalam, ilegalmente, em Angola e mesmo assim muitos acabam por instalar os seus negócios e, pasmemo-nos, por se tornarem cidadãos angolanos. As cantinas e lojas de bairro, baptizadas como “cantinas do Mamadou” representam o campo avançado de uma operação mais complexa e com inúmeras facilidades das autoridades. Entre elas está a débil política de imigrante que não impede a entrada dos ilegais, nem impõe condições para a sua legalização. Os hábitos e padrões de vida angolanos que deveriam ser a cultura dominante estão gradualmente a ser substituídos por costumes e padrões religiosos e culturais dos muçulmanos, como se vêem em bairros inteiros de Luanda, que param todo o comércio e actividade social para dar lugar às orações. Nos bairros pobres, as minorias economicamente dominantes impõem as regras e até a língua usada no comércio. São as crianças angolanas que aprendem as expressões dos “mamadus” em vez de serem eles a saberem comunicar-se melhor em português. As jovens mulheres angolanas, viúvas ou esposas de maridos desempregados ou caídos na bebedeira, decidem converter-se ao Islamismo para que possam ser segundas e terceiras esposas de um “mamadou”. A poligamia é aceite no Islão quando as circunstâncias sociais o tornam necessário. Um homem abastado pode, por isso, ter até quatro esposas, desde que seja capaz de cumprir as suas responsabilidades sociais, como cuidar de uma mulher viúva, ou de uma mulher desamparada pelo marido ou mãe solteira ou tão-somente uma jovem que voluntariamente decida ser segunda mulher, o que genericamente o tipo de mulheres angolanas que se decidiram converter. Os filhos, mesmo os da relação anterior são também convertidos, um mal menor perante a oportunidade de terem um tecto, três refeições diárias e estudos religiosos assegurados.

Passados estes anos todos de inacção, apesar de várias figuras da sociedade denunciarem, a “invasão muçulmana” deixou de ser um problema de estrangeiros. Tornou-se um problema nacional. Os angolanos que, independentemente, das razões optaram por ser muçulmanos, reclamam do seu direito constitucional de o ser. O processo é uma bola de neve em crescimento. Num vídeo, que tem mais de um milhão de visualizações, uma mulher de pronúncia acentuada lançou às mulheres angolanas um apelo de adesão aos grupos de WhatsApp para muçulmanas vendedoras de roupa, de alimentos e também grupos de madrassa (escola muçulmana de estudos religiosos).

O que era silenciosamente feito ganhou uma dimensão pública. Vivemos agora um processo de “normalização” destas práticas e, o que seria de bradar aos céus, é encarado pela sociedade com tranquilidade e objecto de múltiplas partilhas. Uma jovem mestiça de pronúncia bem angolana, bem-falante, publicou, num outro vídeo, um convite público para que alguém se candidate a segunda mulher do seu marido. O perfil dessa jovem não poderia ser mais esclarecedor: contraria a ideia estereotipada de que são as mulheres de classes baixas, sem escolaridade a aderirem ao Islamismo. O vídeo vulgariza o tema do casamento poligâmico, com a protagonista a assumir com toda a naturalidade o desejo de ter uma rival e a discutir com o marido as preferências de idade e características da candidata. O que era discreto e dissimulado, passa a ser público e normal, sem uma única palavra das autoridades.

Em simultâneo, há movimentações para contornar os processos burocráticos que impediram até hoje a legalização, que era, entre outros, a inexistência de um interlocutor válido, já que existiam duas instituições representativas com o mesmo nome, apesar de terem siglas distintas. A Comunidade Islâmica de Angola (COIA) decidiu mudar o nome para Conselho Islâmico de Angola (CONSIA) e desencadeou já o processo de recolha das 62 mil assinaturas para a criação de uma comissão instaladora que vai liderar o processo de legalização junto do Governo.

O sheikh Altino da Conceição Miguel Umar, antigo coordenador da Comunidade Islâmica de Angola, disse à imprensa que a sua actuação à frente do Consia tem dois focos: “A reconciliação, unificação e união entre todos os muçulmanos em Angola” e “o reconhecimento do Islão” no país. (DR)

Trata-se, realmente, de uma invasão que hoje atinge todas as províncias do país e, quiçá, todos os municípios. Nas grandes cidades, existem bairros inteiros sob domínio cultural e económico dos “mamadus”. A rede comercial, tanto a retalho como grossita conseguem passar pelos pingos da chuva tanto da AGT como do SME. Ninguém, nem mesmo a Inspecção Geral da Administração do Estado (IGAE) consegue realizar um inquérito para apurar o estranho fenómeno da sobrevivência económica dos imigrantes ilegais em Angola.

Comparado com o período em que começaram as denúncias, há cerca de 15 anos, a política de avestruz do Governo angolano acabou por provocar consequências mais prejudiciais do que as que teríamos tido se se tivesse na época demonstrado uma mão firme no controlo das entradas e permanência dos imigrantes. De nada serviu deixar o assunto arrastar-se no tempo ou atirar este problema para baixo do tapete. Agora, a situação é bem pior. Envolve milhares de cidadãos angolanos e a margem burocrática para retardar a legalização é muito menor.

Não há hoje um número fiável de quantos cidadãos angolanos decidiram converter-se ao Islamismo, nem de quantos estrangeiros muçulmanos estão no país. Também não existem estudos sobre as diferentes origens, convicções religiosas e realidade sóciopolíticas das comunidades muçulmanas em Angola. O número de cidadãos angolanos muçulmanos e seus descendentes (que nasceram em Angola e foram levados para outros países) está constantemente a crescer, sem que, aparentemente, o Governo se preocupe com isso.

Perante estes processos em curso de afirmação (até dominação) da religiosidade e de culturas islâmicas, é difícil de acreditar que tanta permissividade, tanto silêncio seja inocente. É grave demais para ser mera inépcia. Mas não sendo inocente, qual é a estratégia do Governo angolano para a invasão muçulmana?

Fonte: JA

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