A réplica de Adalberto Costa Júnior ao discurso sobre o estado da Nação – Laura Macedo

Um descampado onde moradores praticam desporto no Bairro da Boavista foi o local escolhido por Adalberto Costa Júnior , o Presidente da UNITA, para lançar a sua réplica ao discurso sobre o Estado da Nação proferido por João Lourenço enquanto Presidente da República.

A escolha do local para onde Adalberto levou a imprensa não podia ter sido melhor.

O Bairro da Boavista faz parte do Distrito da Ingombota e, consequentemente, do Município de Luanda onde estão localizados tanto o Palácio presidencial onde vive e trabalha “S.Exa” o Presidente João Lourenço coadjuvado por Lima Massano no control dos nossos dinheiros e Dalva Ringote com o comando da resolução dos problemas sociais, bem como outros Ministérios chave da nossa vida. As Finanças, a Saúde e a Educação com Vera Daves, Silvia Lutucuta e Luísa Grilo à testa respectivamente, têm as suas bases no Município de Luanda. Pelo estado degradado do bairro, custa a crer que algum deles saiba onde fica a Boavista.

Logo no início da sua locação, Adalberto Costa Júnior, fez uma radiografia da zona onde se encontrava:

“Escolhemos o cenário que nos rodeia, muito próximo do centro da nossa cidade capital, para convidarmos o governo e o seu titular, à necessidade de retratar com coragem e verdade o país real, totalmente distinto da mui extensa lista de promessas lida na Assembleia Nacional e que em nada se assemelha e não caracteriza a Angola em que vivemos.

Viemos até este bairro de Luanda, com os seus habitantes expostos à pobreza, quando não à extrema pobreza e ao desemprego, com crianças fora do sistema de ensino, sem saneamento básico, como se pode ver com crianças (especialmente meninas) a transportarem água de um chafariz para as suas casas. Esta imagem repete-se em cenários muito mais degradantes na maior parte dos bairros da nossa cidade capital, representando sofrimento e degradação, resultantes das opções partidárias de quem governa o nosso país. Este bairro de Luanda, a um passo da refinaria e de empresas do ramo petrolífero, espelha bem as consequências da ausência das autarquias locais e da inexistência de gestores locais com legitimidade democrática decorrente da livre escolha dos seus representados.

Este contraste de bairros pobres, de cidadãos excluídos da sua participação democrática, com uma cidadania negada, repete-se por toda a dimensão do nosso país e não foi retratada na lista de promessas a que designaram de Estado da Nação. Todos os anos Angola testemunha um infinito rol de promessas que não se cumprem, que consomem quantias elevadas do OGE, que a serem reais há muito nos teriam transformado na Nova Califórnia, que ano após ano foi consumindo a credibilidade de se tornar realidade, porque ano após ano a cidadania nunca se realiza, porque quem está no poder decidiu virar as costas ao chamamento das populações, ao chamamento dos jovens construir um Estado autocrático, sustentado em demonstrações repressivas sempre que necessário, para estender a todo o custo o seu mandato.”

Nesse lado da Boavista, que só conhecia de olhar da estrada que está mais uma vez a ser reconstruida, fiz lá minhas amizades entre as crianças. Marina, 10 anos vai à explicação no período da manhã e quando regressa, antes de almoçar vai acartar água do outro lado da estrada. Dudu mais tímido, no final, veio me pedir para lhe levar até Adalberto porque nunca o tinha visto nem na tv. Fiquei com pena porque já não tive tempo de apresentar-lho.

Se era na minha vez e até porque quem me conhece sabe que não sou de meias palavras;
Se me passasse pela cabeça responder à recém auto proclamada “Entidade Secular” o título que daria seria mesmo o de DESMENTIDO até porque a realidade está à vista na Boavista.

Fonte: Club-k.net

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