O presidente do Brasil, Lula da Silva, enviou um avião da própria frota presidencial para tentar resgatar e repatriar os brasileiros que estão encurralados há dias numa escola católica em Gaza sob bombardeamentos constantes de Israel e têm feito apelos desesperados para que as autoridades brasileiras os tirem dali, algo que a cada hora parece mais aflitantemente impraticável.
A aeronave presidencial tem capacidade para 40 passageiros, além da tripulação, costuma ser utilizada por Lula em viagens dentro do Brasil e não faz parte do outro esforço aéreo, muito mais tranquilo, que aviões da Força Aérea Brasileira estão a fazer há dias numa rota contínua Brasília-Telavive para repatriar 2800 brasileiros que foram apanhados pela guerra em Israel.
O avião deixou Brasília na tarde desta quinta-feira e esta sexta já está estacionado no Aeroporto de Roma, em Itália, onde ficará em alerta permanente até ser autorizado a voar para o Cairo, no Egipto, para resgatar os cerca de 30 brasileiros abrigados no complexo católico Rosary Sister School, em Gaza. Essa autorização será dada quando esses brasileiros, na sua maioria mulheres e crianças, conseguirem atravessar a destruída fronteira entre a Faixa de Gaza e o Egipto, na região de Rafah, mas esse percurso, que desde o início da guerra já parecia extremamente difícil, nas últimas horas transformou-se numa missão quase impossível.
Inicialmente, a ideia era levar os brasileiros da escola católica em Gaza até Rafah num autocarro alugado dias atrás, que seria identificado com uma grande bandeira do Brasil para não ser alvo de ataques, e em seguida, já em território egípcio, levar os refugiados num outro autocarro até ao aeroporto do Cairo, onde o avião presidencial os embarcaria de volta ao Brasil. Mas a ordem dada ao início desta sexta-feira por Israel para que mais de um milhão de palestinos que vivem na cidade de Gaza migrem em 24 horas para o sul da faixa, exactamente onde fica Rafah, tornou imensamente mais difícil o resgate dos cidadãos brasileiros.
As estradas entre o norte da Faixa de Gaza, onde fica a capital, e o sul, onde fica a fronteira com o Egipto, estão sob bombardeios incessantes e já foram praticamente destruídas por milhares de bombas lançadas por Israel desde que sábado passado sofreu um brutal ataque com mais de mil mortos por parte dos extremistas do Hamas. Para piorar, a ordem de evacuação dada por Israel provocou uma fuga em massa de uma multidão inimaginável de civis em desespero, boa parte a pé pois não há mais combustível, o Hamas, tenta a todo o custo impedir a saída da população para poder usá-la como escudo humano a uma cada vez mais provável invasão israelita por terra, e não há um único local seguro no caminho.
De acordo com as últimas informações avançadas pelos brasileiros encurralados na escola, que foi atingida por um ataque aéreo esta quinta-feira e também deixou de ser um lugar razoavelmente seguro, a Embaixada do Brasil na Palestina, que tinha arquitectado o plano de resgate, afirmou que devido ao forte agravamento do conflito nas últimas horas dificilmente vai poder fazer alguma coisa para ajudar, ou seja, os brasileiros parecem entregues à própria sorte no que respeita a apoios locais. Para agravar ainda mais a desesperada missão de resgate, não se sabe agora, com o avolumar da tensão e com o caos popular que se gerou na Faixa de Gaza, se o Egipto, que até agora colaborava activamente com o Brasil no plano, vai querer correr o risco de abrir um caminho, mesmo que alternativo, para os refugiados brasileiros cruzarem a fronteira para o lado egípcio em Rafah, arriscando-se a sofrer uma tentativa, com certeza sangrenta, de invasão em massa do seu país por milhares de palestinos mandados para a região por Israel.