O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, prometeu “desmantelar” o Hamas, que ele descreveu como “monstros sanguinários” na primeira reunião do gabinete do novo governo de emergência nacional de Israel, em Tel Aviv.
Falando antes da sessão, que começou com um momento de silêncio pelas vítimas israelitas da violência, e enquanto Israel se prepara para uma incursão terrestre na Faixa de Gaza, ele disse:
“Estamos a trabalhar 24 horas por dia, como uma equipa e uma frente unida. A unidade entre nós transmite uma mensagem clara à nação, ao inimigo e ao mundo. Vamos desmantelar e destruir os monstros sanguinários do Hamas”, afirmou.
“Vi os nossos incríveis soldados que agora estão na linha de frente. Eles sabem que toda a nação está a apoiá-los. Eles entendem o escopo da missão. Estão prontos para agir a qualquer momento a fim de derrotar os monstros sanguinários que se levantaram para nos destruir”, completou Netanyahu.
Mais de 1.300 israelitas foram mortos depois que o Hamas lançou um ataque terrorista no sul de Israel a 7 de Outubro, que incluiu um ataque a civis num festival de música e um ataque ao kibutz Kfar Aza, que foi descrito como um “massacre” pelo comandante da IDF (Forças de Defesa de Israel) cujas tropas chegaram até lá.
Os ataques aéreos retaliatórios de Israel na Faixa de Gaza já mataram mais de 2.300 palestinos, e uma ordem militar israelita para que as pessoas evacuassem do norte de Gaza para o sul foi descrita pelo órgão de direitos humanos da ONU como “um crime contra a humanidade”.
O conflito entre Israel e Hamas chegou ao seu nono dia neste domingo, 15, sob a expectativa de uma invasão terrestre de Tel Aviv na Faixa de Gaza, território palestino regido pelo grupo terrorista onde vivem mais de 2,3 milhões de pessoas, agora sob cerco total.
“Soldados e batalhões das IDF estão implantados em todo o país e estão a aumentar a prontidão operacional para as próximas etapas da guerra, com ênfase em operações por terra significativas”, disse o exército em comunicado, acrescentando que isso incluiria não só os ataques terrestres como também os aéreos e marítimos e cobriria um “campo de combate expandido”.
Enquanto o novo prazo que o exército israelita havia dado para os palestinos deixarem o norte de Gaza se esgotava, a região sul de Israel terminava de ser esvaziada numa operação apoiada pelo governo.
A cidade israelita de Sderot, por exemplo, a menos de 4 km de Gaza, está a retirar os seus últimos moradores. Cerca de dois terços dos 30 mil habitantes já foram deslocados, e a maioria dos restantes cidadãos deixaram a região neste domingo, de acordo com afirmações do vice-prefeito, Elad Kalimi, ao jornal Times of Israel.
No começo da tarde, alertas de foguetes soaram em diversas dessas cidades na fronteira e foram seguidos de explosões. Um foguete atingiu uma casa na cidade de Ashkelon, mas não deixou vítimas. A expectativa é de que algumas pessoas permaneçam nessas cidades por opção ou por dificuldades para fazer o deslocamento. Quem deixa a região está a ficar em hotéis em Tel Aviv, Jerusalém e Eilat com apoio estatal.
“Vivemos uma noite de horror. Israel nos puniu por não querer sair da nossa casa. Existe brutalidade pior do que essa?” disse à agência de notícias Reuters, por telefone, um pai de três filhos que se recusou a dar o seu nome por medo de represálias. “Prefiro morrer a sair, mas não posso ver minha esposa e filhos morrerem diante dos meus olhos.” Ele se abrigou num hospital.
Na passada sexta-feira (13), Israel deu 24 horas para quem estivesse no norte de Gaza, onde vivem cerca de 1,1 milhão de pessoas, se deslocasse para o sul – operação impossível de ser realizada com segurança, de acordo com as Nações Unidas, e que seria uma sentença de morte a pacientes vulneráveis nos hospitais, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde). No mesmo dia do ultimato, um bombardeio na via Salah-al-Din, usada para a locomoção de civis, matou 70 pessoas, incluindo crianças e mulheres.
O Hamas, por sua vez, pede para que a população não saia sob a justificativa de que Israel tem o objectivo de “semear confusão entre os cidadãos e prejudicar a coesão interna”. Tel Aviv acusa o grupo terrorista de impedir que os civis se locomovam.
A Sociedade do Crescente Vermelho Palestino disse ter recebido uma ordem de Israel para esvaziar um centro de saúde até as 16h locais deste domingo, mas se recusou a fazê-lo por ter o dever humanitário de continuar a prestar serviços aos doentes e feridos.
Manter o funcionamento dos hospitais, porém, é um desafio cada vez maior com o bloqueio de Israel, que impede a chegada de água, alimentos e combustível à empobrecida região.
A operação é parte do conflito que explodiu no dia 7, quando o Hamas promoveu o mais grave ataque da história de Israel. Naquele dia, cerca de mil combatentes palestinos invadiram, por ar e terra, ao menos 14 localidades no sul do país, mataram centenas de civis e soldados e sequestraram pelo menos 126 pessoas. Até agora, cerca de 1.400 foram mortos em Israel.
Como resposta à ofensiva do Hamas, Tel Aviv empreendeu o bombardeio mais intenso em décadas em Gaza, um dos territórios mais densos do mundo. A Força Aérea de Israel disse ter lançado 6.000 bombas no território palestino na primeira semana de guerra. Em média, uma explosão a cada 2 minutos.
A ofensiva israelita matou até a manhã deste domingo pelo menos 2.450 pessoas, de acordo com autoridades de Gaza – estima-se que um quarto das vítimas sejam crianças.
Bombardeios israelitas atingiram alvos civis, como hospitais, campos de refugiados, prédios residenciais, veículos de imprensa e universidades. Ao menos sete jornalistas morreram. Israel, porém, diz que os seus alvos são bases do Hamas e que se esforça para evitar danos a civis.
Segundo o grupo, os ataques aéreos da noite de sábado (14) mataram nove reféns, incluindo quatro estrangeiros. O Hamas havia dito que mataria um sequestrado para cada prédio que Israel atingisse sem aviso prévio, ameaça que parece não ter se concretizado.
A mais de 180 km dali, outro conflito se desenrola e aumenta os temores de que a guerra se espalhe. A fronteira norte de Israel com o Líbano tem sido palco dos mais graves confrontos na região desde 2006. Neste domingo, um ataque do Hezbollah matou uma pessoa e feriu três na cidade israelita de Shtula, fazendo Tel Aviv isolar a sua fronteira com o país vizinho e iniciar um bombardeio a posições da milícia.
A troca de fogo já havia ocorrido nesta semana como forma de os dois lados mostrarem prontidão em tempos de guerra. O Hezbollah é um dos aliados regionais do Hamas, e ambos os grupos são bancados pelo regime teocrático do Irão.
O conselheiro de segurança do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, Tzachi Hanegbi, disse que Israel está a tentar não ser arrastado para uma guerra de duas frentes. “Esperamos que o Hezbollah não seja responsável pela destruição do Líbano” disse ele.
A Casa Branca disse que o presidente americano, Joe Biden, reiterou seu aviso no sábado contra qualquer um que busque expandir o conflito.
Também não está claro se o Hezbollah, a maior milícia libanesa apoiada pelo Irão, que possui uma vasta gama de mísseis guiados de precisão e forças terrestres, poderá responder a uma invasão de Gaza abrindo uma segunda frente com Israel ao longo da fronteira com o Líbano.
Com agências internacionais