Setembro vermelho: Bela Malaquias quer desculpas dos algozes da Jamba

No dia 7 do mês em curso, o triste episódio de queima às bruxas na Jamba, ex-bastião da UNITA, antigo movimento armado, completou 40 anos, e uma das testemunhas, Florbela Malaquias, defende que os carrascos peçam desculpas públicas.

Por: Domingos Cazuza*

O apelo foi lançado recentemente, em Luanda, durante uma palestra que homenageou as vítimas da Jamba, mortas naquele fatídico dia do ano de 1983, a mando de Jonas Savimbi, acusadas da práticas de bruxaria.

“Foram 50 mulheres atiradas à fogueira, acusadas por Jonas Savimbi de bruxas.

As mulheres foram convocadas para irem à parada, e cada uma foi-se posicionando ao meio à medida que eram chamadas”, lembrou a deputada à Assembleia Nacional que actualmente lidera o Partido Humanista de Angola.

Florbela defende que os algozes venham a público pedir perdão pelos actos cometidos.

“Eles devem arrepender-se e que haja capacidade de abraçarem e acolherem as vítimas, porque no plano emocional e psicológico as feridas são profundas”, desabafa, e acrescenta com um semblante triste que “essas pessoas precisam de repousar em paz, ou seja, de um enterro condigno”.

Emocionada, recorda que “Savimbi tinha uma lista na mão. Depois foram atiradas ao fogo. Estas senhoras contribuíram com lenha para a sua própria fogueira e não sabiam o que lhes iria acontecer”, conta.

Florbela reforça que as vítimas foram acusadas de bruxas e nada ficou provado, tendo revelado que Jonas Savimbi era a pessoa que empurrava as senhoras para a fogueira.

“Quando não conseguia pedia ajuda aos seus guardas, mas foi ele que comandou a operação”, declara.

Essa homenagem, diz, é uma promessa antiga, cuja data não podia deixar passar em branco.

“A providência quis que isso acontecesse, e felizmente estamos aqui para podermos render um tributo àquelas mulheres”, acrescenta.

A história d¹as queimadas da Jamba, segundo revela, permaneceu durante muito tempo na penumbra, ou mesmo na sombra, e muitos trabalharam para que fosse esquecida.

“Poucos trabalharam para que não fosse esquecida, porque são seres humanos. São mulheres que não tinham nada para serem queimadas”, explica, a antiga membro da UNITA, agora líder de um partido político com assento parlamentar.

“Passaram-se 40 anos que não é muito tempo. Este facto faz parte da nossa história recente, porque ela não passa, ela atrela-se a nós”, defende, a também deputada à Assembleia Nacional, que considera que as vítimas das queimadas da Jamba têm direito à justiça, à reparação à memória e à verdade, porque está em causa a vida de seres humanos.

“Queremos com isso o acerto de contas com o nosso passado. A nossa memória colectiva precisa de fazer o luto para nos despirmos do peso e falarmos das coisas normalmente”, sublinha, avançando que “temos que falar das senhoras que foram queimadas vivas, como um dado histórico para que os nomes delas sejam lembrados, como são os casos da Judite Bonga, Vitória Chipati e o seu bebé. Clara Miguel, que conseguiu se desfazer da criança, Maria Piedade, João Caetangui, com a esposa e a filha, e tantos outros.

Segundo Florbela Malaquias, as queimadas foram bastante chocantes. “Esse crime de lesa pátria não é imprescritível, ou seja, pode ser invocado a todo o tempo”, conclui.

*Pungo Andongo

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