Malanje: Presidente da República promete “algo” que pode orgulhar os angolanos nas próximas décadas

Íntegra da entrevista do Presidente da República, João Lourenço, no final da visita à província de Malanje.

TPA Malanje: Senhor Presidente, depois de ter visitado vários empreendimentos do sector produtivo aqui, em Malanje, e pelo quadro que lhe foi apresentado pelo Senhor Governador, que soluções pode avançar para resolver alguns problemas apresentados?

PR: Que soluções? São muitas. Depende. Em que domínio? Já agora, vamos falar de tudo. Nós começámos ontem a nossa visita com a visita de campo à Fazenda Lutete, na Quizenga, e depois ao Complexo Agroindustrial da Biocom. Fizemos isso porque hoje muito se fala da necessidade do combate à fome, da necessidade de produzirmos mais bens alimentares essenciais para o consumo das nossas populações. Fazia todo o sentido eu começar a minha visita no campo, ali onde se produz a comida.

A Fazenda Lutete, na Quizenga, funciona como uma espécie de incubadora empresarial para capacitar os nossos jovens – aqueles que estão interessados em abraçar a actividade do campo – a começar o seu negócio com pequenas parcelas infra-estruturadas e contribuírem para o tão necessário aumento da produção de bens essenciais.

Nós gostamos do que vimos. Aquele projecto não tem muito tempo de existência. Foi inaugurado no ano passado. É um investimento público. Alguns críticos dirão que o Estado já não tem de se meter no sector produtivo, na produção de alimentos ou de qualquer outro tipo de bens, e que não devíamos fazer, ou uma vez que está feito, devíamos incluir no PROPRIV para que seja privatizado.

Para este caso concreto da Quizenga, e depois do que vimos, nós entendemos que não deve ser privatizado, porque vamos aproveitar o facto de já termos lá água, energia e terrenos infra-estruturados. E decidimos então construir o Instituto Superior de Agronomia da Província de Malanje, que vai ser o maior instituto deste nível superior no país.

Neste momento, como sabem, temos apenas na província do Huambo uma instituição de ensino superior para formação no ramo da Agronomia. Vai nascer aqui este segundo, aqui no norte do país, e vamos caprichar no sentido de fazermos algo de que nos possamos orgulhar nas próximas décadas.

Falar da necessidade de aposta na agricultura sem nos preocuparmos com a formação do homem, não é fazer bem as coisas. Não basta apelarmos para que as empresas produzam mais, que os empresários agrícolas produzam mais, se eles não tiverem pessoas para empregar, pessoas capacitadas, que saibam deste negócio da agricultura, de como produzir o milho, a soja, o feijão; como criar o gado…

É preciso que estejam formados, que estejam preparados. Então, vamos manter e melhorar a Chianda, no Huambo; vamos reabilitar o Chivinguiro, na província da Huíla; e construirmos, de raiz aqui, o novo Instituto Superior de Agronomia da província de Malanje. Porquê Malanje? Porque Malanje tem um grande potencial agrícola e é rodeado de outras províncias com o mesmo potencial agrícola. Estou a referir-me ao Cuanza Norte e ao Uíge, nomeadamente. Portanto, localizá-lo aqui em Malanje, acho que faz todo o sentido. Isso sem prejuízo de o estabelecimento poder e dever receber candidatos de todas as 18 províncias do país.

Na Biocom… A Biocom está a satisfazer cerca de 40 por cento das necessidades de consumo de açúcar do país. A meta é trabalharmos para ganhar mais 20 por cento, para que, nos próximos anos, possa cobrir cerca de 60 por cento das necessidades de consumo do país em açúcar. Para isso, vai ter que fazer investimentos, quer no campo (ampliar as áreas de cultivo), quer mesmo, se calhar também, na parte industrial, mas sobretudo na parte agrícola. Esse compromisso existe por parte dos accionistas. É evidente que todo o investimento carece de recursos, mas a banca existe para isso. Os investidores têm de recorrer sempre à banca para poderem realizar os seus projectos. Eu acredito que a banca estará aberta para este passo que se pretende dar.

Para sermos autossuficientes na produção de açúcar, os 40 por cento que faltarão, se calhar, justificam que outros investidores privados se interessem em investir numa unidade agroindustrial do género da Biocom, em algum ponto do país, de preferência numa província por onde passe um caminho-de-ferro que leve a um porto comercial.

A Biocom está em Malanje, no norte, talvez fizesse sentido que esse investimento fosse feito numa das províncias ao longo do Caminho-de-Ferro de Benguela. Quem sabe, o Bié, o Moxico, em Benguela, no Huambo, porque temos que pensar que, depois de cobrir as nossas necessidades internas, devemos ter ambição sempre de podermos também exportar.

Aqui, já na cidade de Malanje, como sabem, acabámos de realizar a reunião com o Governo da província de Malanje. Foram-nos colocados muitos problemas, a maioria dos quais já são do nosso conhecimento e que vão sendo resolvidos. Portanto, vamos concluir o trabalho de desassoreamento do Rio Malanje, que está a cerca de 70 por cento de execução.

Foi-nos colocada a necessidade de reabilitação do Hospital Geral de Malanje. Mas o Hospital de Malanje está num estado de degradação de tal ordem que torna difícil fazer uma intervenção profunda, tendo os doentes lá dentro. E não temos alternativa, não temos onde colocar os doentes, para que se possa fazer essa intervenção profunda. Então, o que decidimos é construir um bloco anexo, que vai compreender o Banco de Urgência, os blocos operatórios, a unidade de esterilização e a unidade de produção de oxigénio hospitalar.

Isto pode começar a ser feito, enquanto num período de dois a três anos vamos erguer o novo Hospital Geral de Malanje, que está prometido, está lançada a primeira pedra e o compromisso se mantém.

Vamos fazer um hospital moderno em Malanje, a exemplo dos que temos vindo a fazer em outras províncias. Uma vez concluído este novo hospital, vamos então fazer a reabilitação profunda ao actual Hospital Geral. A província, a cidade, depois acabará por ficar com duas unidades hospitalares de referência, sem prejuízo também de olharmos para a necessidade de investir mais em unidades de nível primário e secundário. Portanto, hospitais municipais e a nível mais abaixo no resto da província.

A província ganha ou vai ganhar também uma nova centralidade com 2.500 fogos. Hoje, temos concluídas, ou quase concluídas, um certo número de habitações em número muito pequeno. Então, apostamos em construir essa centralidade com 2.500 habitações. As obras devem começar ou no final deste ano ou, mais provavelmente, no início do próximo ano. Mas as centralidades em si não são a solução para a habitação. Não me estou a referir apenas a Malanje, estou a referir-me ao país. As centralidades ajudam, podem acomodar uma certa franja da nossa população, mas a solução para todos é, sem sombra de dúvida, a auto-construção. E, na auto-construção, a responsabilidade do Estado é ceder os terrenos, de preferência infra-estruturados, para que cada um possa construir a sua própria habitação. Esta é, a nosso ver, a solução. Ou melhor, uma das soluções. É a combinação das várias soluções: habitação social construída pelo Estado, as centralidades construídas pelo Estado, a autoconstrução – auto já quer dizer que é o próprio que faz – é o próprio que constrói…

As cooperativas de habitação e os empresários também que queiram ganhar dinheiro construindo casas, quer para arrendar, quer para vender. A combinação dessas várias formas de resolver o problema é que, efectivamente, vai acabar por resolver o problema da habitação. E não é só para Malanje, mas para todo o país.

Não sei se me passou algo de importante aqui…

Embora não esteja propriamente em Malanje, mas para se chegar a Malanje ou para sair de Malanje, precisamos de estradas. E o troço Catete/Maria Teresa/Ndalatando, ou melhor, desde Catete até Ndalatando, a estrada não está boa. Ontem, o ministro da Construção anunciou publicamente que vamos atacar já Catete/Maria Teresa, mas hoje pressionámo-lo a assumir o compromisso de não parar em Maria Teresa, mas chegar até Ndalatando, porque, efectivamente, o troço que até está pior é Maria Teresa/Ndalatando.

A ligação de Luanda a Malanje é feita não apenas por via rodoviária, mas também por linha ferroviária. E aí temos o problema: Maria Teresa/Cacuso. Estou a referir-me ao Caminho-de-Ferro de Luanda, troço onde têm ocorrido muitos acidentes, como descarrilamentos de comboio e que levaram mesmo ao cancelamento dos comboios de passageiros, uma vez que é importante salvaguardar a vida humana. Esse troço do Caminho-de-Ferro de Luanda vai também ser reabilitado. Já temos o empreiteiro que ganhou o concurso. A fonte de financiamento está identificada. Estamos naqueles trâmites burocráticos que, como sabem, não os podemos dispensar. Mas, em princípio, temos a garantia de que a Mota-Engil, a todo o momento, vai dar início à reabilitação deste troço do Caminho- de Ferro de Luanda.

TPA MALANJE: A segunda questão não é propriamente ligada à sua visita, mas também tem estado a dar o que falar a nível nacional. Tem a ver com a polémica instalada no futebol angolano por suspeita de corrupção de dirigentes desportivos. Qual é a sua visão sobre este assunto, enquanto homem do desporto?

PR: Eu considero que se criou uma situação muito grave, se tivermos em conta o facto de que o futebol a nível mundial é o desporto das multidões. Evidentemente que em Angola não é diferente. Em Angola, não é só das multidões, mas podemos mesmo considerar que é o desporto nacional. E a situação que se criou é grave, porque ameaça não apenas o Campeonato Nacional, mas ameaça o próprio futebol angolano em si. Então, eu considero que deve haver bom senso, que se averigue, efectivamente, a necessidade de se castigar algum prevaricador e que isso seja feito, mas que nunca ponha em jogo a continuidade do campeonato e muito menos que não mate o futebol angolano.

Não posso ir mais ao detalhe, porque eu creio que a Federação Angolana de Futebol, as associações provinciais, que me estão a ouvir, saberão, melhor do que eu, o que fazer no sentido de salvaguardar apenas duas questões: não comprometer o campeonato e não matar o futebol angolano.

TV ZIMBO: Senhor Presidente, sei que há todo o interesse da província de Malanje em ganhar um “mini Cafu”. Esta questão foi colocada ontem durante a visita à fazenda Lutete, um projecto para irrigar todo o pólo industrial de Capanda. Gostava de saber qual é a visão do Senhor Presidente em relação a este pedido da província de Malanje, uma vez que também ontem foi posta a questão do Instituto Superior para Ciências Agrárias, que já foi aprovado.

PR: Talvez, por lapso eu não me tenha referido a ele, mas ontem mesmo e lá no local, na fazenda Lutete, na Quizenga, assumimos o compromisso de, para além do Instituto Superior Agrário, também construir esse canal que foi solicitado para o perímetro irrigado de Capanda. É um canal que é pequeno, se compararmos aos que estamos a construir no Sul de Angola. O Canal do Cafu tem 165 quilómetros. Os canais do Ndúe e Calucuve, também no Cunene, terão mais ou menos a mesma dimensão do Cafu e talvez maiores, pelo menos em termos da área de contenção de água das albufeiras. Portanto, 35 quilómetros, vamos mesmo satisfazer o pedido da província. O canal vai ser feito.

RNA: O Senhor Presidente começou por falar do troço de Maria Teresa; gostava de saber do Senhor Presidente como é que encara o facto de Malanje ter a via principal, a Estrada Nacional 230 asfaltada, mas a periferia que vai para bairros famosos como o da Catepa, Maxinde e não só, não estão asfaltadas. Foi-Lhe colocada essa preocupação durante as duas horas e meia da reunião? Antes de colocar a próxima pergunta, quero que fale já do vaticínio em relação ao jogo de Angola…

PR: Não está a respeitar o compromisso. Os compromissos são para ser cumpridos. [os jornalistas colocam uma pergunta de cada vez]

Bom, vou começar pela segunda, apesar do forte golpe que o futebol angolano acaba de sofrer em relação ao qual já falámos, eu acredito que a nossa selecção está com o moral levantado e, por isso, vaticino que Angola vai ganhar. Esta sacudidela que o futebol sofreu que sirva de catalisador para que os nossos jogadores façam tudo o que estiver ao seu alcance para garantir a vitória de Angola.

Em relação à recelagem das ruas, dos bairros, isto é algo que não é da responsabilidade do Governo Central. Ontem à noite demos uma volta pela cidade de Malanje e pudemos constatar aquilo que vem nos relatórios. Constatámos com os nossos olhos que a nível local estão sendo feitas as coisas. A nosso ver, boas coisas! Vimos a cidade de Malanje iluminada, vimos uma ou outra rua a ser recelada. Portanto, acredito que, com os recursos do PIIM, este processo de melhoria da imagem da cidade capital da província, da cidade de Malanje, vai ter continuidade.

TV GIRASSOL: Nós gostávamos de saber, em relação à construção de habitações, que informações recebeu do Governo de Malanje sobre o término das obras da Centralidade da Carreira-de-Tiro, sendo que as obras começaram já há algum tempo.

PR: Vocês gostam muito de ir ao detalhe (risos). As obras estão na sua fase final. É essa informação que recebemos, já agora, na reunião com o Governo da província. Pelo que entendemos, para a província, deixou de ser uma preocupação. O que é preocupação é saber quando é que vão começar as obras da verdadeira centralidade. E, em relação a isso, já respondi. Portanto, a tal de 2.500 fogos…

TV ZIMBO: O território malanjino é que detém a maioria das grandes barragens de Angola. No entanto, apenas quatro municípios beneficiam de energia da rede pública…

PR: Dos 14 municípios, apenas quatro estão a beneficiar de energia da rede nacional. É em Malanje onde estão as duas principais barragens hidroeléctricas: Capanda e Laúca. É justo que a província seja das primeiras a beneficiar deste bem essencial à vida e à economia do país e da província.

Faltam 10 municípios e, na reunião de hoje, a orientação que o sector da Energia recebeu é no sentido de investir mais na rede de transportação de energia, que vai levar a energia para os restantes dez municípios que, por enquanto, estão a ser alimentados com fontes térmicas, que, como sabemos, não só consomem muito combustível, muito diesel, como também contribuem negativamente para o aumento da poluição ambiental.

Portanto, os 14 municípios de Malanje, em princípio, devem beneficiar, devem passar nos próximos anos a beneficiar da energia produzida em Capanda e em Laúca, tão logo as redes sejam estendidas para esses mesmos municípios.

TV ZIMBO: Senhor Presidente, permita que lhe faça só mais uma pergunta em relação ao Ensino Superior na província de Malanje, que tem a Universidade Lueji A’Nkonde. Mas há uma grande necessidade de olhar para a qualidade da formação e para o incremento de mais cursos para atender às necessidades da província…

PR: Nós sabemos que as instalações em que a Universidade Lueji A’Nkonde vem funcionando não são as ideais para uma instituição do Ensino Superior.

O país vai construir cinco novas infra-estruturas para o Ensino Superior, que vão beneficiar cinco províncias. E o que tenho a dizer – e esse compromisso foi revelado na reunião desta manhã- é que entre as cinco províncias beneficiárias, uma delas é precisamente a província de Malanje.

Portanto, melhores dias virão para o Ensino Superior em Malanje, para a Universidade Lueji A’Nkonde, que vai poder trabalhar em melhores condições para formar os nossos jovens.

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