Contra os três dirigentes da UNITA pendem acusações de terem supostamente cometido crimes de criação de quadrilha, lavagem de dinheiro, tentativa de golpe de Estado e crédito malparado.
Por: Ireneu Mujoco*
Segundo fonte deste jornal, o primeiro a ser ouvido pela Procuradoria Geral da República (PGR) foi o secretário nacional dos antigos combatentes das ex-FALA, antigo braço armado deste partido, general na reserva, Abílio Augusto Camalata Numa, no dia 19 de Julho, ao passo que o vice-presidente desta força política, Simão Dembo e o deputado Lukamba Paulo (Gato) prestaram declarações no dia 26.
Camalata Numa foi depor sobre a sua suposta ligação a uma associação criminosa, crédito malparado e tentativa de golpe de Estado, enquanto Lukamba Gato, seu antigo colega de trincheira nas FALA, foi responder sobre delitos que têm a ver com a criação de quadrilha, tráfico de drogas, branqueamento de capitais e também crédito malparado.
Já Simão Dembo, o primeiro vice presidente da UNITA, foi prestar declarações sobre a criação de uma alegada quadrilha, lavagem de dinheiro e branqueamento de capitais.
As audiências destas três figuras de proa da direcção do partido do ‘galo negro’ surpreendeu muitos quadros, com realce para membros da Comissão Política do Comité Permanente (CPCP) e o caso está a ser gerido por um secretismo absoluto, segundo as fontes deste jornal.
As mesmas avançam que a presença destes três membros seniores da direcção da UNITA está a ser motivo de muita preocupação no seio deste partido, a julgar pelos crimes em que são indiciados.
Avançam que, no caso particular do ‘vice’ Dembo, as suspeitas sobre o seu suposto envolvimento em branqueamento de capitais, começaram a ser levantadas internamente desde que viu as suas contas bancárias bloqueadas, na mesma altura que o presidente do partido, Adalberto Costa Júnior.
As fontes deste jornal desconhecem em que bancos estão congeladas as coordenadas bancárias dos três suspeitos, enquanto uma outra fonte também familiarizada com o assunto, admite que terá sido num dos em que no princípio do ano a UNITA, em nome do seu presidente, tentou um fazer crédito bancário, mas sem sucesso.
Camalata Numa e Lukamba Gato são figuras de proa da UNITA, desde a era de Jonas Savimbi, líder fundador do partido, morto em combate em Fevereiro de 2002, no Moxico.
Numa, que foi um dos fundadores das Forças Armadas Angolanas (FAA), e seu vice-chefe, sendo titular o general João de Matos, criado após à assinatura dos Acordos de Bicesse, abandonou o exército, tendo regressado à mata, para juntar-se às FALA até 2002, altura em que foi assinado o memorando de entendimento do Lwena, assinado entre o Governo e a UNITA, que colocou fim à guerra de 27 anos. Em entrevista à TV Zimbo, conduzida pelo jornalista Francisco Mendes, Camalata Numa tinha justificado publicamente a sua deserção por ter sofrido alegadamente um atentado na sua residência oficial no distrito do Benfica, em Luanda, a 20 quilómetros do centro da cidade.
Depois de passar à reforma, Numa exerceu o cargo de secretário-geral da UNITA, em substituição de Mário Vasco Miguel (Kanhali Vatuva) na língua umbundu, tigre invencível, em português, falecido por doença.
Foi também deputado e candidato à liderança do partido por duas vezes, tendo concorrido com Isaías Samakuva e Adalberto Costa Júnior, mas perdeu para ambos.
Lukamba Gato, já foi um dos principais delfins e confidentes de Jonas Savimbi, condição que o tinha catapultado também para o cargo de secretário-geral do partido, depois da deserção de Eugénio Manuvakola do Bailundo (Huambo) para Luanda.
Além de diplomata, Gato foi o coordenador da comissão de gestão da UNITA, depois da morte de Jonas Savimbi, estatuto que lhe permitiu negociar a paz com o Governo, que terminou com a assinatura dos acordos de paz de 4 de Abril de 2002.
Este é o segundo caso em que altos dirigentes da UNITA são chamados a prestarem declarações à PGR sobre questões ligadas a dinheiro.
No primeiro caso, Leonel José Gomes, antigo director adjunto do Instituto de Reinserção e Integração de ex-Militares (IRSEM), liderado na altura pelo general António Andrade, foi acusado de ter desviado dinheiro para fins pessoais. Chegou a ser julgado, cuja sentença este jornal desconhece.
As acusações contra os três membros da UNITA, sobre o suposto golpe de Estado, coincidem com o pronunciamento do seu presidente, Adalberto Costa Júnior, quando disse recentemente em Benguela que havia altas patentes militares que o incentivavam para tomar o poder pela força das armas.
Ao que tudo indica, a procissão ainda vai no adro sobre esta questão, segundo fontes deste jornal, serão ouvidos outros membros da UNITA sobre este assunto.
Entretanto, o porta-voz da PGR, Álvaro João, que prometeu pronunciar-se sobre o caso, não o fez até ao fecho desta edição, na última sexta-feira, 04 de Agosto.
*Pungo Andongo