Dom Belmiro Chissengueti: O púlpito, a batina e a agenda política

Apesar de ser voz corrente que a Igreja constitui a reserva moral da sociedade, a defensora da justiça e o garante de amparo e esperança às almas sofredoras, aos pastores exige-se o mínimo de ética e o respeito ao princípio de laicidade nas suas preces, sob pena de serem confundidos com os partidários que têm como fim imediato a conquista do poder.

Por: Emanuel Kadiango

A Igreja Católica habituou-nos a ser a voz dos oprimidos, mesmo nos momentos de conflito armado, convertendo-se numa parceira das agências da ONU, ao distribuir alimentos, assistência médica e medicamentosa e reerguendo a esperança dos crentes, ao mesmo tempo que ajuda os governantes e prega a mensagem de reconciliação entre os beligerantes. Não é por acaso que todos os Estados mantêm uma relação de cordialidade e espírito de inter-ajuda com a Igreja Católica, a face doutrinária do Estado do Vaticano.

O Governo angolano jamais se demitiu das suas responsabilidades no que diz respeito ao apoio à Igreja na manutenção do seu património e na sua missão pastoral, como foi a deslocação da comitiva angolana que participa nas Jornadas da Juventude em Lisboa.

É deveras repugnante e revoltante que esta missão de que se esperava uma mensagem de alento aos crentes sirva de espaço de agitação política e de vilipêndio a um Estado, um país e um Governo… e o protagonista não poderia ser diferente: Dom Belmiro Chissengueti, o mesmo que, sob o silêncio cúmplice da CEAST, dirige mensagens de desprezo às autoridades angolanas, usando palavras chaves da oposição política.

A missa proferida pelo porta-voz da CEAST que, na missão em Lisboa, actua como coordenador da juventude católica angolana que participa nas Jornadas lideradas pelo Papa Francisco, não passou de acto de agitação política aos jovens; não passou de um apelo à alternância política nem passou de um discurso demagogo de um homem com agenda política bem clara.

As comparações que ele fez entre Angola e Portugal, esquecendo-se da responsabilidade deste último na estagnação da antiga jóia da coroa portuguesa, se não viesse da boca de um pastor, seria considerada resultado de cinismo, de ignorância e de amnésia patológica.

Dom Belmiro Chissengueti ignorou os seus conhecimentos históricos e tentou dizer por outras palavras que Angola já devia ter estradas, cidades e beleza igual ou superior a de Portugal. Disse, por outras palavras, que os jovens devem, na sua liberdade e na sua missão de procura de paz, trocar de um governo que é incapaz de proporcionar bem-estar e satisfazer as legítimas aspirações do povo angolano.

Este não é discurso de um padre, muito menos homilia de um pastor que orienta as ovelhas para a construção de uma sociedade harmoniosa. Este é o discurso de quem o povo já chama sobrinho de Savimbi, o mesmo que, por ambição ao poder, transformou a capital do Bié, a também terra natal de Chissengueti, em ruína física e humana.

Este é a mensagem de quem defendia a correcção da História, num discurso com motivações étnicas que pretendia instigar os ovimbundu contra as demais etnias angolanas.

Este é o discurso dos pregadores da alternância pela alternância que, até ao momento, não se conformam com a derrota nas urnas e tentam a todo o custo desacreditar quem legitimamente está a governar o país. Dom Belmiro Chissengueti, que não é estúpido, deveria entregar a batina e, como fizeram os padres Tati e Congo em cuja província, curiosamente, exerce o bispado, tomar o seu rumo partidário.

Se antes dúvidas existiam, desta vez até o meno atento terá percebido que a batina constitui a ponte eficaz para Dom Belmiro dar o salto de galo. A CEAST, na sua coerência, deveria preocupar-se com a boca e as mãos em que deposita parte da responsabilidade da Igreja em Angola. O Executivo, por sua vez, tem de escolher se continua a servir de saco de pancadas de um parceiro a quem nunca virou as costas ou de uma vez por todas deve defender a sua honra… terá de escolher entre manter a aliança com Pôncio Pilatos e caminhar com Jesus Cristo.

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