A decisão do Governo de retirar gradualmente os subsídios à gasolina, que passou dos 160 kwanzas para 300 kwanzas/litro (ou seja, de 0,25 euros para 0,48 euros), provocou uma forte contestação e agitação social. Na província do Huambo, aconteceram tumultos que resultaram em pelo menos duas mortes e mais de 30 detidos. Nas demais províncias, a tensão aumenta e já há manifestações agendadas.
O que explica esta reação tão negativa dos cidadãos e das organizações da sociedade civil?
A subida do preço da gasolina é uma medida necessária para promover a reforma do sector energético no país, reduzir a despesa fiscal e alocar mais recursos nos sectores da educação, saúde, e infraestruturas e assistência social, mas que foi mal comunicada aos cidadãos.
Foram cometidos graves erros comunicacionais que devem ser corrigidos para recuperar a confiança e a adesão dos cidadãos às reformas em curso no país. Para isso, o Governo deve elaborar e implementar um plano de comunicação eficaz, transparente e participativo sobre a remoção dos subsídios aos combustíveis e as medidas de mitigação.
O Executivo não soube informar, educar, sensibilizar e mobilizar os cidadãos para a necessidade e a urgência da reforma, nem para os benefícios esperados para o desenvolvimento sustentável, a diversificação da economia e a melhoria da qualidade de vida. Também não soube ouvir, dialogar e incorporar as sugestões e contribuições dos cidadãos e das organizações da sociedade civil para o sucesso das reformas.
Entre os muitos erros comunicacionais cometidos, podemos destacar os seguintes:
1. Anunciar a subida do preço da gasolina de forma abrupta, gerando surpresa, indignação e revolta nos cidadãos que dependem do combustível para as suas atividades diárias.
2. Não explicar de forma clara e convincente as razões e os benefícios da remoção dos subsídios aos combustíveis, que são considerados um direito adquirido pelos cidadãos que sofrem com a pobreza, o desemprego, a inflação e a crise económica.
3. Não apresentar (antecipadamente) as medidas de mitigação previstas para compensar os cidadãos mais vulneráveis pelo aumento do preço da gasolina, como por exemplo os cartões de consumo aos taxistas, agricultores e pescadores.
4. Não criar canais e mecanismos participativos para recolher as opiniões e as sugestões dos cidadãos e das organizações da sociedade civil sobre a reforma do sector energético e no geral a retirada das subvenções até 2025.
O que fazer para salvar a situação? Ainda há tempo para se corrigir os seus erros comunicacionais e recuperar a confiança e a adesão dos cidadãos às reformas em curso no país. Para isso, o Governo deve tomar as seguintes medidas:
– Expressar compreensão pelos inconvenientes causados pela subida do preço da gasolina e admitir as falhas.
– Retomar o diálogo com os cidadãos e as organizações da sociedade civil sobre a remoção dos subsídios aos combustíveis e as medidas de mitigação, criando canais e mecanismos participativos para recolher as suas opiniões e sugestões.
– E em último caso, suspender temporariamente a subida do preço da gasolina até que sejam implementadas as medidas de mitigação previstas pelo Governo para compensar os cidadãos mais vulneráveis.