Desemprego Juvenil – A maior ameaça à paz e a estabilidade

“O clima político vivido em Angola nos últimos tempos não deve ser visto de ânimo leve”, palavras vindas da boca de um presado que me levaram a reflectir sobre alguns sinais que de facto, são preocupantes, particularmente a sensação de instabilidade reprimida fisicamente, que no entanto migrou para o digital, através das redes sociais, de onde são lançadas instantaneamente ondas de choque de ansiedade, que passam a ideia de que as coisas vão de mal a pior, criando desespero e desconfiança, especialmente no seio da juventude.

Por: Muzangueno Alione

Este cenário e algumas conversas de bar, levaram-me a reflectir sobre as forças por detrás desta onda de desinformação e desrespeito às autoridades instituídas.

Evitei me deixar levar pela caça de fantasmas e bruxas que limitam o debate público na bipolaridade política, em que a lógica do inimigo nos leva a intolerância e nos distanciam das questões profundas sobre a Nação.

As coisas andam mal, mas não de mal a pior. Há reformas urgentes que devem/deviam ser feitas e o necessário sacrifício consentido. Mas infelizmente algumas vão sendo adiadas para atender demandas políticas imediatas. Nesta dinâmica de um passo à frente e dois atrás, não conseguimos passar uma mensagem clara do que será de Angola nos próximos 10 ou vinte anos, e com isso afugentamos o investimento privado estrangeiro, que daria solução a um problema, que no fundo é a maior ameaça à paz e a estabilidade – o desemprego juvenil.

Um país que tem quase metade dos jovens desempregados, e os que estão empregados tem empregos precários, com baixo poder de compra, em que cerca de 80% (mais de 9 milhões) atuam no mercado informal. Não precisa buscar fantasmas para culpar a atitude dos jovens em enveredar por práticas violentas, que apesar de serem reprimidas fisicamente, ganham espaço vertiginoso nas redes sociais, meio em que o Estado nem sequer uma legislação tem para regular.

Hoje, a criação de empregos para jovens deve ser prioridade. A juventude (desempregada) não pode continuar a ser encarada como um fardo, vista como uma ameaça à segurança, embora seja a mais propensa a manipulação e radicalização. Pelo contrário, entidades do Estado devem procurar agir com a juventude na busca de soluções, avaliando profundamente a nossa realidade sócio cultural, reconhecendo, à partida, que o sistema foi criado dando mérito a mediocridade, com uma mentalidade que valoriza os esquemas e a corrupção em detrimento da ética e excelência.

Neste contexto, por mais que se atraiam investimentos, serão para exploração de matérias primas, que exigem mais máquinas que humanos, e privilegiam a corrupção para a concessão de licenças.

Multinacionais do ramo das tecnologias de informação, do mercado financeiro e do agronegócio, que actualmente lideram as economias e consequentemente a criação de empregos, não terão interesse em se instalar cá, porque não há mão de obra barata e qualificada, tal como nos países asiáticos.

Não tendo, em número significativo, juventude preparada para montar circuitos eletrônicos, programar softwares e plantar bananas, resta o atendimento ao público e trabalhos domésticos, áreas em que é mais atrativo imigrar.

No meio deste impasse, é preciso uma agenda política de Nação, que vai além dos ciclos eleitorais e das demandas eleitoralistas, e que tenha foco no médio – longo prazo o desafio de estabilizar a moeda, reformar a justiça, combater a corrupção e reformar o sistema de educação, orientando-o para a valorização da excelência, e na aquisição de competências mais úteis para realidade actual de um mundo globalizado, em que a competitividade não tem fronteira.

Em grande medida, o problema decorre de uma compreensão simplificada das ligações entre status de desemprego e participação na violência. Entender que jovens ociosos e “frustrados” (homens) desviam sua energia potencialmente produtiva para fins destrutivos. E essa violência latente, manifesta nas redes sociais, se a observarmos de ânimo leve, romperá o cordão de segurança e lançará o país no caos, por força da mão invisível. Mas claro, não faltará uma voz política a instigar a juventude que aparentemente não tem mais nada a perder.

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