Angola depara-se, nesse momento, com um atraso salarial sem precedentes, sendo que, estes atrasos atingiram quase, senão mesmo, todos os sectores da vida produtiva do País, principalmente professores, médicos, enfermeiros, Polícia Nacional e Forças Armadas Angolanas.
Se por um lado, existe um silêncio ensurdecedor do lado do Executivo angolano, cujo, Titular do Poder Executivo, João Lourenço, solicitou mais trabalho e melhor comunicação, a titular da pasta das finanças, a Ministra Vera Daves, mesmo tendo dado uma extensa entrevista à rádio Luanda Antena Comercial (LAC), não se dignou a dar uma informação, nem que superficial sobre o atraso salarial geral que se verifica no País.

Se por um lado, a Ministra Vera Daves carece de uma “ordem superior” para falar sobre os atrasos salariais que se verificam no País, a socióloga angolana Tânia de Carvalho considera não ser compreensível, “num País rico e belo”, como é o caso de Angola e, tal como nos foi ensinado desde tenra idade, “com um governo com 23 ministérios, seis órgãos auxiliares da Presidência da República com status de ministérios, mas nenhum responsável destas áreas se lembrou do lema do Presidente e que a função pública, actualmente com 398.815 cidadãos, na sua maioria, chefes de família, merecem uma informação oficial sobre os seus salários em atraso”.
A partir deste princípio, é facto assente que o Governo angolano informa mal e, por este facto, debate-se, quase sempre, com especulações sobre inúmeras situações que ocorrem na sociedade angolana.
Embora até ao momento alguns pelouros já começaram a pagar os seus salários, com realce para a Educação e Saúde, fora dos prazos a que estão acostumados, e com isso, as consequências daí decorrentes, com outros serviços que acabam por ser onerados e a serem taxados por tabela, como o caso dos créditos com juros de mora, certo mesmo é que o governo está a ter dificuldades em pagar os salários dos funcionários públicos, por sinal, em quase todos os sectores, já que, até na última sexta-feira, quase ninguém tinha começado a ver a cor do seu ordenado.

Além do registo desse atraso salarial, na província de Luanda, por exemplo, alguns sectores, como a educação e saúde, começaram a ser pagos a conta-gotas, para não falar dos homens da farda azul e malhada, da Polícia Nacional e das Forças Armadas que, regra-geral, recebem nos dias 25 de cada mês e que estão a ser forçados a fazer um jejum que pode ir além do dia 10, já que muitos trabalhadores ainda não receberam os seus ordenados referentes ao segundo mês do ano. Esta é uma situação que está a gerar descontentamento.
Ao ECOS DO HENDA, Domingos Cachine, que preferiu não revelar a sua área de actuação, é um dos visados. Ele explica que o atraso nos salários tem como consequência, entre outros, a “criação de dívidas”, o que faz com que, “quando receber o salário”, “volte novamente a ter dificuldades”. Por este facto, aponta como solução uma informação aos cidadãos sobre os motivos destes atrasos que, reconhece, não ser normal, e acautelar os bancos por causa dos cidadãos que têm créditos, já que, não é um problema pessoal, mas conjuntural.
De referir que Angola ocupa o penúltimo lugar da lista dos salários mínimos nacionais mais baixos, no valor de 32.181.2 Kwanzas, equivalentes a 51,2 Euros, sendo superada apenas por Bangladesh com um salário equivalente a 15.2 Euros, embora não sejam frequentes atrasos generalizados esta não é a primeira vez que se verificam. A última vez que foi registado um atraso salarial desta dimensão foi, igualmente, no mês de Fevereiro de 2017 e, antes disso, em 2020 e 2015, passando deste modo a ser uma realidade recorrente desde que despoletou a crise económica e financeira no país, derivada essencialmente da baixa do preço do petróleo no mercado internacional.