O Professor catedrático da Universidade Agostinho Neto, Raul Araújo, conhecido por ter estado envolvido em todas as reformas da justiça em Angola desde a sua génese, até aos dias de hoje, decidiu, em entrevista a TV Zimbo, sobre a Estado da Justiça em no País, fazer uma abordagem sobre as últimas polémicas que ensombram o poder judicial angolano, tendo garantido que, os presidentes dos tribunais não têm de merecer confiança política de nenhum órgão, tal como o pedido de demissão da juíza conselheira do Tribunal de Contas, solicitado pelo Presidente da República João Lourenço.
Para o então jurista, os dirigentes angolanos e as suas instituições ainda não conseguiram ultrapassar o sistema de governo de 1975, na era do partido único, em que o Presidente da República era o detentor único de todos os poderes e, por essa razão, condena as vozes que se levantam para aplaudir o comunicado da Presidência da República segundo a qual, a Veneranda juíza conselheira Presidente do Tribunal de Contas, Exalgina Gâmboa, foi exonerada por ter perdido a confiança política junto do Presidente da República, advertindo que “os Presidentes dos Tribunais não têm de merecer confiança política de nenhum órgão”.
O ex-bastonário da Ordem dos Advogados de Angola, vai mais longe e critica mesmo o presidente João Lourenço pela forma como comunicou a “a crise” instalada no tribunal de contas, instando-o a ter mais cautela nesse tipo de comunicações.
Para o antigo juiz conselheiro do Tribunal Constitucional, está em curso no país, a prática do assassinato de carácter por via das redes sociais e, por isso, desencoraja tais práticas porque no seu entender, esta-se a prestar um péssimo serviço à Nação. Por este facto, pede aos jornalistas que fazem trabalhos investigativos sobre o Estado da Justiça em Angola no sentido de investigarem, mas não se colocarem na posição de juízes.
Recorde- se que nos últimos dias tem surgido muitas denúncias envolvendo o nome dos tribunais de Contas e o Supremo, sendo que o Tribunal de Contas encontra-se agora sem presidente, em função do pedido de demissão da sua presidente Exalgina Gâmboa, cujo nome e do seu filho estão associados a alegados esquemas de corrupção, peculato, e extorsão.
No caso do Tribunal Supremo, o seu Presidente Joel Leonardo, apesar das denúncias envolvendo seu nome em casos de abuso de poderes, corrupção, nepotismo e alegados esquemas de venda de sentenças, mantém-se de pedra e cal tendo recebido o beneplácito do Presidente da República, João Lourenço, em recente entrevista ao garantir não haver provas nas acusações de que é visado e, ao contrário do que aconteceu com a sua congénere do Tribunal de Contas, não se pode “cometer injustiça”.