São já 62 os mortos confirmados da embarcação pesqueira que naufragou ao largo da costa italiana, a cerca de 30 km de Crotone, mas a Organização Internacional para as Migrações (OIM) estima 100.
“Entre os corpos recuperados e os desaparecidos, há uma centena de mortos, um número enorme”, disse o porta-voz da OIM em Itália, Flavio di Giacomo, explicando que segundo os depoimentos dos sobreviventes, 180 pessoas viajavam no barco (no domingo estimava-se que o número de passageiros podia chegar aos 250).
“Isso significa que cerca de uma centena de pessoas perdeu a vida, embora nunca saibamos o número exato”, admitiu o porta-voz.
No barco, que afundou domingo ao largo da costa da Calábria, sul de Itália seguiam pessoas do Irão, do Paquistão e do Afeganistão, incluindo vários menores. O jornal La Repubblica deu conta de 20 crianças entre os mortos, uma delas recém-nascida. A maioria dos migrantes está desaparecida e há pouca esperança de encontrar pessoas com vida. Alguns dos sobreviventes tê partilhado os seus testemunhos.
O Ministério Público de Crotone abriu, entretanto, um processo contra desconhecidos por homicídio múltiplo e cumplicidade na imigração ilegal, indica o La Reppublica.
O homem responsável por embarcar as mais de 200 pessoas numa embarcação frágil já terá sido detido pela polícia. A imprensa dá conta de que será um indivíduo de origem turca e que estará entre os sobreviventes. As autoridades não revelaram mais detalhes, mas o jornal italiano La Repubblica escreve que foram encontrados documentos de um outro potencial traficante, ainda não localizado pelas autoridades, mas cuja identidade está sob investigação.
Entre as notas de pesar pelo acidente, como a do Papa Francisco, também há muitas mensagens políticas dirigidas à União Europeia sobre a necessidade de mudar as políticas de acolhimento de migrantes.
“Oremos juntos também pelas vítimas — entre as quais muitas crianças — do naufrágio ocorrido ao largo da costa da Calábria, em Itália, e pelos migrantes sobreviventes. Agradeço a todos os que os ajudaram e aos que os acolhem”, escreveu Francisco na sua conta oficial de Twitter.
Uma explosão a bordo. O que se sabe do acidente?
O primeiro balanço da Guarda Costeira italiana, divulgado durante a manhã, dava conta de 43 cadáveres recuperados. No comunicado enviado à imprensa, a Guarda Costeira italiana afirmava que 80 sobreviventes foram resgatados, tendo alguns deles conseguido chegar sozinhos até à praia depois do naufrágio. Para o local, lê-se na nota, foram enviadas duas lanchas e um helicóptero. Uma das embarcações resgatou dois homens em estados de hipotermia e o corpo de uma criança já sem vida.
A Cruz Vermelha também enviou equipas para o local.
Segundo os relatos dos sobreviventes, o navio em que viajavam partiu-se ao meio e muitos dos passageiros caíram à água, uma vez que o mar estava agitado. Terá embatido em rochas antes que os migrantes conseguissem pedir ajuda e os corpos foram arrastados para a praia turística de Steccato. Foram encontrados espalhados ao longo de vários quilómetros, segundo as autoridades italianas.
Os sobreviventes são interrogados pela polícia para se tentar descobrir as circunstâncias do acidente e a origem dos migrantes, sabendo-se que a maioria são iranianos, paquistaneses e afegãos.
“Um dos sobreviventes contou-me que houve uma explosão a bordo e corpos queimados”, relatou um socorrista ao La Repubblica. Ao mesmo jornal, outra testemunha conta que tirou os corpos de dois gémeos do mar, enquanto que na praia, foi encontrado um bebé que parecia ter poucos meses.
Outra informação avançada pela imprensa local é que a embarcação deixou há quatro dias o porto de Esmirna, na Turquia. Segundo a Guardia di Finanza (tutelada pelos ministérios da Economia e das Finanças), o navio foi avistado durante a noite de sábado, a cerca de 40 milhas da costa italiana, por uma aeronave da Frontex — a Agência Europeia da Guarda de Fronteiras e Costeira.
Nessa altura foram acionados meios de salvamento, mas as condições marítimas não permitiram chegar aos migrantes. Os meios terrestres foram avisados para ficar de prontidão, assim como as forças policiais.
“Onde está a União Europeia?” Críticas às políticas de imigração chegam de vários lados
“A Calábria está de luto, onde está a Europa?”, questionou o governador da região da Calábria, Roberto Occhiuto. Também o autarca de Cutro, um dos primeiros a chegar ao local, admirou-se com o tamanho do acidente: “Já tinham chegado migrantes, mas nunca houve uma tragédia desse tamanho.”
Três dias antes do acidente, o parlamento italiano aprovou um novo decreto de migração, da autoria do Governo de extrema-direita de Giorgia Meloni. As novas regras ditam ser obrigatório solicitar a afetação de um porto após o primeiro salvamento de um grupo de migrantes e ir para esse local sem se desviar para localizar outras embarcações em perigo.
As organizações não-governamentais (ONG) queixaram-se repetidamente que as autoridades italianas têm vindo a atribuir portos distantes no norte e centro de Itália, com viagens que duram quatro a cinco dias, negligenciando-se as operações na zona central do Mediterrâneo, onde ocorrem a maioria dos naufrágios.