As fortes chuvas que se fazem sentir na província do Cunene provocaram o desabamento de uma parte do canal do Cafu, construído recentemente, sob orientação do Executivo angolano, para acudir a situação de seca que assola aquela região do país.
Segundo a denúncia, inicialmente despoletada pelo jornalista Ilídio Manuel, com imagens ilustrativas publicadas, na sua página nas redes sociais e, posteriormente, retomada pela mesma via pela Camunda News, dão conta que “boa parte dos 130 milhões de dólares norte-americanos gastos na execução desse empreendimento poderão ir pelo canal abaixo caso se continuem a fazer obras consideradas descartáveis em Angola”.
Ilídio Manuel teve essa reação depois de ter confrontado as imagens sobre o canal do CAFU que, terá recebido de fontes credíveis, demonstrarem os estragos causados pelas chuvas que continuam a cair com alguma regularidade e de forma intensa em Ondjiva, capital do Cunene.
Ministério manda equipa técnica ao terreno
Entretanto, a sua solicitação no sentido de alguém ligado ao Ministério de tutela falar sobre o assunto “e as TPA’s fossem ao terreno confirmar ou desmentir a informação que, convenhamos, não deixa de ser preocupante” é extremamente necessário, não se fizeram esperar.
Em nota partilhada nas redes sociais, o Instituto Nacional de Recursos Hídricos do Ministério da Energia e Águas deu a conhecer que devido as fortes chuvas que ocorreram nos últimos dias na cidade de Ondjiva, Província do Cunene, provocou numa das secções do Canal Condutor Geral do Cafu, o deslocamento de placas.
“Neste momento, uma equipa técnica constituída pelos Empreiteiros, Fiscais, equipa técnica do Governo Provincial e representantes do dono da obra, procedem um levantamento técnico para a reposição das placas e solucionar a situação naquela secção do Canal”, avança o documento datado de 05 de Fevereiro de 2023 e assinado pela Direcção Geral do Instituto Nacional de Recursos Hídricos (INRH).
Construção das “obras da seca” custaram 200 milhões USD ao Estado
O orçamento para a construção de infra-estruturas para a mitigação dos efeitos da seca foi aprovado em Abril de 2019 no valor de 200 milhões USD.
Para a fiscalização das obras estruturantes no âmbito do combate aos efeitos da seca na província do Cunene, o Governo vai desembolsar 6,3 mil milhões Kz para a contratação de quatro empresas.
A informação consta no despacho presidencial n.°94/20, de 26 de Junho, que faz referência ás empresas que venceram o concurso público. Tratam-se da fiscalização das obras de construção da central de captação água no rio Cunene, do sistema de bombagem e da conduta de alta pressão, bem como 10 chimpacas (reservatório tradicional de água nas zonas rurais) a partir de “Cafu até Cuamato” celebrado com o consórcio Gwic Angola, S.A/Sintec, no valor de 148 milhões Kz.
O outro contrato é celebrado com a empresa Triede Angola que fiscaliza as obras de construção do canal adutor e 20 chimpacas a partir de Cuamato até Namacunde, no valor de 116,9 milhões Kz, refere o documento. O diploma acrescenta que as obras de construção da barragem “128 Caculuve “, bem como 44 chimpacas são fiscalizadas pela empresa H3P-Engenharia e Gestão, cujo valor do contrato é 3,3 mil milhões Kz.
A fiscalização das obras da barragem “71 de Ndúe” e o canal adutor, é feita pelo consórcio “Coba-Consultores de Engenharia e Ambiente/Cobangola”, no valor de 2,7 mil milhões Kz, refere o decreto. Recorde-se que o plano orçamental da construção de infra-estruturas para a mitigação dos efeitos da seca no Cunene, foi aprovado no ano passado, pelo despacho presidencial n.°56/19, de 16 de Abril, avaliado em cerca de 200 milhões USD.
Canal do Cafu
O Canal de Cafu (Sistema de Transferência de Água do Rio Cunene), projecto que visa combater a seca severa e beneficiar um total de 230 mil habitantes e 255 mil cabeças de gado naquela região sul do país foi inaugurado no mês de Abril de 2022 pelo Chefe de Estado, João Lourenço e é um projecto concebido pelo Executivo, no âmbito do Programa de Combate aos Efeitos da Seca no Sul do país e consiste num sistema de captação e transferência de água do rio Cunene para várias povoações, através de um canal adutor com 160 km de extensão, ao longo dos quais foram construídas 30 chimpacas (locais para abeberamento do gado), com capacidade para 30 milhões de litros cada.
Os dados técnicos do projecto indicam que a obra vai beneficiar uma população calculada em 235 mil habitantes, vai permitir o abastecimento de água a 250 mil cabeças de gado, a irrigação de 15 mil hectares de terreno, além de garantir 3.275 empregos directos.