Em política, os factos não se sucedem de forma ocasional ou por mera coincidência, acontecem dentro de um quadro milimetricamente estudado e planeado.
Há coisa de duas semanas, o ministro dos negócios estrangeiro chinês efectuou uma visita à Angola no quadro do reforço da cooperação de ambos os países. Duas semanas depois, num intervalo de tempo muito curto, o ministro dos negócios estrangeiros da federação Russa faz o mesmo que o seu homólogo chinês. SERÁ QUE AMBAS AS VISITAS QUASE SEGUIDAS É MERA OBRA DO ACASO, OU COINCIDÊNCIA DE AGENDAS!?
Conforme dissera anteriormente, em política não existem coincidências, existem jogos de interesses organizados milimetricamente dentro de uma agenda com datas específicas para o seu cumprimento.
No final do ano passado, os EUA organizou uma cimeira com os países Africanos onde, ao meu ver, o seu principal objectivo era o de mais uma vez, pressionar os líderes africanos a se virarem contra a Rússia e cegamente, seguir e ajudá-lo a concretizar àquilo que são os seus interesses estratégicos pelo mundo afora, em particular em África.
Todos sabemos que historicamente, a Rússia sempre teve uma grande proximidade com boa parte dos países africanos, feliz ou infelizmente, o “império” soviético não conseguiu resistir e aquando da sua queda, muitos países aproximaram-se dos países ocidentais, sobretudo, aos EUA.
Todos vimos e ouvimos Sua Excelência, o Sr. Presidente JLO aquando da tomada de posse do seu segundo mandato a deixar claramente óbvio qual seria a política externa de Angola neste seu segundo mandato, ou seja, deixou claro que estaria muito mais próximo do ocidente, ao condenar sem rodeios o ataque da Rússia à Ucrânia.
Para mim, e para muitos outros especialistas em Relações Internacionais, seria melhor que Angola continuasse neutra face a este conflito, pois, ao condenar como o nosso chefe de Estado o fez aquando da sua tomada de posse no seu segundo mandato, é um acto que pode beliscar a relação com um velho e estratégico parceiro de Angola como é a Rússia, e ao aproximar-se demais à Rússia, pode afastar os parceiros ocidentais que também são importantes para nós. Ou seja, ser neutro pode parecer um acto de “covardia”, mas a neutralidade seria a melhor opção, para depois não corrermos o risco de dar “tiro aos próprios pés.”
É lógico que dentro do quadro da sua soberania, Angola é livre de celebrar acordos com quem quer que seja, e de igual modo, se afastar de qualquer ente, para concretizar os seus interesses. Até porque, em última instância, a sobrevivência de qualquer Estado no cenário internacional depende de si próprio. Mas há manobras que devem ser bem estudadas antes de serem realizadas, para num futuro próximo ou distante não termos represálias.
Estas duas visitas ao nosso país quase simultâneas por causa do curto espaço de tempo entre um e outro chefe da diplomacia Chinesa e Russa, nas mídias pode aparecer como sendo o reforço das relações bilaterais, mas para mim, julgo que nos bastidores o recado é claro:
— SENHOR PRESIDENTE JLO, TENHA CUIDADO COM OS SEUS PASSOS, NÃO SE “EMOCIONE” DEMAIS, LEMBRA-TE DOS SEUS PARCEIROS REAIS QUE AJUDARAM E AJUDAM DE FACTO O SEU PAÍS NA OBTENÇÃO DE FINANCIAMENTOS SEM MUITOS RODEIOS PARA O BEM-ESTAR DO SEU POVO.”
Em África, Angola é um país muito estratégico para qualquer potência, por isso, somos de opinião que os nossos passos no âmbito da política externa devem ser bem dados para não nos prejudicarmos no curto e no longo prazo, pois, como todos sabem, o conflito na Ucrânia não é directamente entre Kiev e Moscovo, mas sim entre os EUA e a Rússia, uma vez que há até documentos que mostram que o principal objectivo dos EUA foi e continua a ser fazer a Rússia desaparecer do mapa, daí a cautela que Angola deve ter no meio de todo este jogo.