Jornalistas marcharam contra ataques à profissão e questionam: “Quem tem medo da liberdade”?

Jornalistas marcharam no passado sábado (17.12), em Luanda, contra as intimidações à classe, numa altura que repórteres de vários órgãos de comunicação social social têm sido vítimas de detenções e agressões no exercício da profissão. A sede do sindicato foi assaltada por três vezes num único mês, sem resposta das autoridades policiais.

O último acto criminoso contra o Sindicato dos Jornalistas Angolanos (SJA) foi registado na sexta-feira (16.12). Mais uma vez foram roubados computadores. Na via pública e nas suas residências, os profissionais têm sido alvo de assaltos, sendo que os meliantes subtraem apenas computadores e telemóveis, que são os principais meios de trabalho dos jornalistas.

Estes actos são “graves” e “assustadores”, segundo refere o SJA no seu manifesto lido pelo secretário-geral Teixeira Cândido. “É uma ameaça séria à liberdade de imprensa e à integridade física dos jornalistas. Será democrático viver assustado por exercer jornalismo? Há quem aproveita essas ameaças que se pretende infundir aos jornalistas e às respectivas associações? Quem tem medo da liberdade?”, questionou.

O sindicato nunca foi uma “caixa preta”, sublinha a associação que diz que a estrutura tem proposto medidas com vista à garantia da liberdade de imprensa no país, quer ao nível de legislação, quer na actuação dos poderes públicos. “Compreendemos a necessidade de dialogar sempre com as instituições do Estado, porque somos parte do Estado, porque realizamos uma democracia à altura dos melhores exemplos. Não nos identificamos como um grupo de pressão. Cientes de que a nossa função é exigir, mas também sugerir. É essa a nossa identidade hoje e amanhã”, referiu Teixeira Cândido.

Protesto reuniu dezenas de profissionais do sector em Luanda. (DR)

“É em vão investir no medo”
Os jornalistas avisam os “detractores” que investir no medo não os fará recuar da missão conjunta de defender a liberdade de imprensa em Angola. “Pode fazer recuar um, dois, três jornalistas ou mesmo uma redacção. Jamais, porém, todos. Ainda que o preço desta luta possa significar pagar com a própria vida, a luta pela liberdade não vai parar. Ricardo de Melo foi morto há quase 30 anos. Mas a luta por um jornalismo livre ao serviço do cidadão não parou e não vai parar. É em vão investir no medo”, frisou o sindicalista.

“Quem tem medo da liberdade?”, “O nosso partido é o jornalismo” e “Ser jornalista não é crime” foram algumas das palavras de ordem na marcha que partiu do Largo do Soweto até ao Largo da Liberdade, no bairro Vila Alice, em Luanda. Esta foi a primeira vez em 47 anos de independência de Angola que os jornalistas sairam às ruas para se manifestarem.

O jornalistas defenderam o fim da censura, das detenções e da manipulação do jornalismo. Os profissionais também apelaram ao Governo que garanta tratamento igual a todos os órgãos de comunicação social.

Na sexta-feira (16.12), o Presidente angolano, João Lourenço, manifestou a partir de Washington, Estados Unidos, o seu apoio à manifestação dos jornalistas. Em entrevista à Voz da América, o chefe de Estado disse que o assalto ao sindicato é uma acção que visa desacreditar o seu Governo, que continua empenhado na defesa da liberdade de imprensa e de expressão.

“Os responsáveis desta acção condenável não pretendem outra coisa senão responsabilizar o Governo por isso. Temos sido os maiores defensores dos jornalistas, defendemos a liberdade de imprensa, a liberdade de expressão”, garantiu o político.

A marcha decorreu sob protecção da Polícia Nacional, órgão do Estado angolano que nos últimos dias prendeu e molestou vários repórteres.

William Tonet, jornalista e director do jornal Folha 8, acredita que o protesto foi realizado sem repressão devido ao pronunciamento do chefe de Estado.

“A polícia, pela primeira vez, agiu civilizadamente em relação aos jornalistas. Não queremos ter privilégios. Queremos que a polícia aja assim em todas as manifestações. Mas se a ordem fosse ao contrário, já estava também um contingente preparado na rua adjacente, com uma série de carros com a Polícia de Intervenção Rápida para eventualmente intervir”, advertiu o repórter.

João Lourenço, chefe de Estado da República de Angola. (DR)

“A imprensa está capturada”
Wiliam Tonet diz que o poder político angolano está com medo da liberdade de imprensa e de expressão, razão pelo qual se assiste no país ao encerramento de várias redacções, bem como intimidações aos jornalistas.

“Este regime é contra a liberdade de imprensa, contra o jornalismo como nunca tinha feito José Eduardo dos Santos em 38 anos. Isso é o que nos dói, porque combatemos a ditadura de José Eduardo dos Santos”, frisou. “Nunca tivemos tantos órgãos fechados, tantos jornalistas no desemprego, tanta falta de liberdade”, lamentou.

Leitores, ouvintes e telespectadores marcharam com os jornalistas pela liberdade em Angola. No protesto também estavam rostos sonantes da sociedade civil e alguns deputados da oposição.

Em declarações à DW África, Olívio Nkilumbu, deputado pelo grupo parlamentar da UNITA, disse que há um retrocesso das liberdades em Angola.

“A imprensa está capturada. No período eleitoral é o momento que mais se violam os direitos e liberdades em Angola. A captura da imprensa foi factual e foi visível nas eleições e ainda continua”, concluiu.

C/ DW África

::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::
_____________________________________________________________________________________________

APOIE E AJUDE ESSE PROJECTO COMUNITÁRIO

O jornalismo comunitário é um jornalismo feito na Comunidade, pela Comunidade e para a Comunidade sem fins lucrativos e, por amor a camisola. Apoie esse projecto cidadão que existe em Angola desde 2004, com o lançamento do 1º jornal impresso no município do Cazenga.

Conta BFA: 0027.1970.4830.001

IBAN BFA: AO06.0006.0000.2719.7048.3018.9

Envie o seu comprovativo via WhatsApp para o terminal +244 923 876 938.

O ECOS DO HENDA e a Comunidade agradecem o seu gesto de benfeitoria e solidário.

Compartilhar

Leave a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *