“Não acredito que Kamorteiro teve uma morte natural” – General Nzumbi

Foi a enterrar, no cemitério do Alto das Cruzes, em Luanda, na última sexta-feira, 02 de Novembro, o general Abreu Muengo Ukuatchitembo ‘Kamorteiro’, falecido na semana passada, por doença. Entre os angolanos que ainda se mostram incrédulos a sua morte, consta o também general Matias Lima Coelho ‘Nzumbi’, que garantiu ao jornal OPAIS, que o malogrado era dos fortes candidatos ao cargo de Chefe de Estado-Maior General, pelo que acredita que alguma coisa estranha terá acontecido ao finado.

Matias Lima Coelho ou simplesmente general ‘Nzumbi’, considera-se não ser apenas mais um que chora a morte do general Abreu Muengo Ukuatchitembo ‘Kamorteiro’, um dos co-signatários dos Acordos de Paz, rubricados a 4 de Abril de 2002 entre o Governo e a UNITA, falecido na madrugada do último domingo, 28 de Novembro.

Nzumbi, que hoje está na reforma, afirma, com convicção, que foi amigo próximo e de muita intimidade de Kamorteiro, que perdeu a vida aos 64 anos de idade.

Conhecendo bem a pessoa que foi Kamorteiro, Nzumbi se recusa a aceitar que o amigo, companheiro e contemporâneo teve morte natural e embarca na ideia que alguma coisa estranha terá acontecido com o então Chefe do Estado-Maior adjunto para a Área Operativa e de Desenvolvimento das Forças Armadas Angolanas (FAA).

Ao jornal OPAIS, Nzumbi conta que a última vez que esteve com Kamorteiro foi no funeral do general Adolfo de Matos, no princípio do mês passado. Na altura, frisou, esteve muito bem, quer física como emocionalmente, e não apresentava preocupação alguma.

Na altura, explicou Abreu Kamorteiro, não falou nada a respeito de uma eventual escolha ou ascensão ao cargo de Chefe de Estado-Maior General das FAA.

Mas, continuou, a nível das escolhas, naquilo que foram as opções do Exército, indicou-se três nomes, dos quais o do próprio general Kamorteiro, ao que deveriam seguir para o Palácio para a apreciação do Presidente da República.

“Não era nada ainda oficial. Tudo estava a ser trabalhado. Mas sei que havia três nomes que já foram submetidos à escolha do Exército para substituírem o actual Chefe de Estado-Maior General. E entre eles constava o Kamorteiro. Sendo ele dos fortes candidatos ao cargo de Chefe de Estado-Maior General, não acredito que teve morte natural”, apontou o oficial na reforma que exorta ainda a família a ser muito rigorosa com a autópsia.

“Nestes casos a família tem de ser mesmo rigorosa. Eu apelo que se contrate um médico-legista independente e que esteja a par e passo da família para ser descoberta a verdade da morte do Kamorteiro. É triste, dói profundamente”, lamentou.

Uma relação antiga

Na entrevista a este jornal, o “Comandante”, como gosta de ser tratado, conta que a relação de amizade e proximidade com o malogrado teve início em 1992, um dos anos mais conturbados da história político-militar de Angola que mergulhava numa crise pós-eleitoral.

Na ressaca dos Acordos de Bicesse, de 31 de Maio de 1991, o país realizava, naquele fatídico ano de 1992, as suas primeiras eleições, precisamente nos dias 29 e 30 de Setembro, numa maratona eleitoral que tinha como propósito eleger o Presidente da República e os deputados à Assembleia Nacional.

No final das contas, a participação eleitoral foi de 91,3% para as eleições parlamentares e 91,2% para as eleições presidenciais, tendo o MPLA, sob liderança de José Eduardo dos Santos, ele também candidato às presidenciais, vencido o pleito com um saldo de 1.953.335 votos (49,57 por cento), ficando em primeiro lugar, e, em segundo, o líder da UNITA, Jonas Savimbi, que obteve 1.579.298 votos (40,07 por cento).

Nesta época, Savimbi rejeitava os resultados, considerando-os como fraudulentos e instala-se no país um clima conturbado de conquista do poder por via da força com as FALA, braço militar da UNITA, na frente de todo processo de desestabilização.

Nesta fase, fruto dos Acordos de Bicesse de 1991, Abreu Kamorteiro já estava integrado nas FAA como chefe adjunto da Logística, tendo depois, com o agravar dos conflitos, se refugiado para outras zonas do país e regressado à UNITA.

Mas antes do agravar do conflito, resultante da crise pós-eleitoral, general Nzumbi disse que ia, muitas vezes, ao gabinete de Abreu Kamorteiro, o que reforçou os laços de amizade.

O reencontro

Com o fim do conflito armado em 2002, na sequência da morte do líder da UNITA, Jonas Savimbi, Nzumbi disse que fez parte da comissão que foi a busca de Abreu Kamorteiro para seguir a Luanda assinar os Acordos de Paz, rubricados a 4 de Abril de 2002 entre o Governo e a UNITA.

General Geraldo Abreu Muengo “Kamorteiro”.
(DR)

“Não são palavras bonitas, mas era um homem de paz”

Nzumbi disse ter argumentos suficientes para considerar Abreu Kamorteiro como sendo um homem de paz, a julgar pelos mais variados processos em que passou, granjeando sempre consenso, respeito e elevada consideração.

“Não é só por assinar os Acordos de Paz nem falar palavras bonitas, mas o Kamorteiro foi um homem de paz. Era um Comandante muito preocupado com a tropa. Dava o melhor de si para não defraudar a confiança das pessoas”, destacou.

Autopsia do general Kamorteiro aponta para infarto do miocárdio

O resultado da autopsia feita ao corpo do general Abreu Muhengo Ukwachitembo “Karmorteiro” aponta que o mesmo morreu de infarto do miocárdio, soube, esta quinta-feira.

De acordo com uma informação citada pela TPA Notícias, a realização da autópsia ao corpo de “Kamorteiro” contou com a participação de dois médicos de medicina legal do Serviço de Investigação Criminal (SIC), um do Hospital Militar, dois indicados pela família, do director da Polícia Judiciária Militar e o procurador militar adjunto.

Com | OPAIS

Compartilhar

Leave a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *