Angola ‘fecha’ os cemitérios e abre novas cadeias para os marginais

O Serviço Penitenciário (SP) angolano coloca em funcionamento, este ano, quatro novas cadeias, para mitigar a sobrelotação nesses estabelecimentos, informou, esta quinta-feira, o director-geral do órgão, comissário prisional principal Bernardo do Amaral Gourgel.

A alta patente falava à margem da Conferência Internacional Conjunta do Serviço Penitenciário e o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes, realizada sob o lema “Direito de Viver com Dignidade nas Prisões”.

Trata-se das cadeias do Boma (Moxico), de Cacongo (Cabinda), da Matala (Huíla) e Cassosso (Cuanza Sul), que neste momento estão a ser apetrechadas.

“Pensamos que, em breve, teremos a oportunidade de inaugurá-las e, com isso, desafogar um pouco essa sobrelotação que vivemos”, disse o director-geral do Serviço Penitenciário.

Assegurou, na ocasião, que o Órgão que dirige está apostado igualmente no fomento da actividade agrícola, no sentido de ocupar os reclusos e, com isso, produzir produtos agrícolas em grande escala.

Informou que o processo levado a cabo pelo Serviço Penitenciário já tem dado resultados consideráveis, augurando o aumento da produção nos próximos tempos, “para reduzirmos os custos com os reclusos”.

Segundo o responsável, os custos com os reclusos variam em função da inflação da moeda, lembrando que, há cinco anos, o custo diário para cada recluso era de 50 dólares e actualmente ronda os 100 dólares.

A alta patente do Serviço Penitenciário salientou que nas cadeias do país estão quatro mil reclusos a mais, ou seja, o órgão tem uma capacidade de 21 mil reclusos, que activamente está acima de 25 mil.

Director geral dos serviços penitenciário, Comissário Bernardo do Amaral Gourgel.
(António Escrivão)

Reclusos com HIV recebem tratamento

O director-geral do Serviço Penitenciário informou que o órgão controla 451 reclusos com HIV ao nível do país, entre eles 180 em Luanda e 77 no Cunene e estes beneficiam de tratamento normal. “Não temos tido falta de stock em relação à sua assistência médica e medicamentosa”.

A Conferência Internacional, organizada pelo SP e o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes, realiza-se no Dia Internacional dedicado à luta contra o VIH/SIDA, que se assinala hoje (quinta-feira).

Na ocasião, Zahira Virani, Coordenadora Residente das Nações Unidas em Angola, disse ser dever de todos eliminar as desigualdades que propagam a pandemia da SIDA.

“Podemos combater a SIDA, mas para tal temos de acabar com as desigualdades que nos impedem de progredir”, vincou.

Considera premente a tomada de medidas práticas que se revelam valiosas para acabar com a SIDA, sendo que o acesso a serviços mais adequados e de melhor qualidade para o tratamento, detecção e prevenção do VIH deve ser alargado.

“É necessário melhores leis, políticas e práticas para eliminar o estigma, e a exclusão para as pessoas que vivem com VIH, em especial nas populações mais vulneráveis, como as pessoas que vivem e trabalham nas prisões, expressou.

Para a diplomata da ONU, todas as pessoas merecem respeito e sentirem-se incluídas, notando que, hoje em dia mais de 11 milhões de pessoas estão em estabelecimentos prisionais em todo o mundo.

“São uma população vulnerável que não pode ser deixada para trás. É, por isso, essencial debater os direitos humanos nas prisões, e sensibilizar para a importância de continuar a garantir o direito a viver com dignidade, em particular nas questões ligadas à saúde”, vincou.

Neste Dia Mundial da SIDA, apelou a uma acção conjunta, fazendo eco às palavras do Secretário-Geral da ONU, António Guterres “Igualdade já!”. e fazer com que este apelo se torne uma realidade no país.

Louvou a insistência do Governo de Angola, do Serviço Penitenciário, dos escritórios: regional e nacional da ONUDC, e das agências especializadas da ONU no país que, juntos, através de acções como esta, relembram que o direito à dignidade humana tem de ser inclusivo e abrangente a todas e todos.

“Pois somente assim é que garantimos os direitos humanos a toda a população do país, e alcançamos os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável para uma sociedade mais igualitária, mais justa e mais e mais inclusiva, sem deixar ninguém para trás”, finalizou.

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