A morte é designada como sendo a cessação física da vida, a noção da morte é inseparável das noções de sexualidade e de indivíduo. Ela aparece como um escândalo e como uma manifestação de uma violência radical e subterrânea que ameaça permanentemente a organização do universo tal como os homens a realizam por meio do trabalho. Quer se trate da morte biológica ou da morte espiritual ou psíquica (é por isso que ela abre em certas sociedades um acesso ao sagrado).
A dimensão transcendental da inacção do corpo físico é imanente a arte que silencia a voz, tornando ambos inactivos, inacessíveis a dimensão do mundo das coisas.
Nascemos condenados à morte e ela chega à ensurdidas atraindo vontades tal qual uma mulher linda em busca de um príncipe encantado.
Este desejo de querer compreender a transdimensão do ser leva-nos a reminiscência antropológica para compreender a função da morte no homem, e que através do qual produz comportamentos sociais (exemplo: os cuidados prestados ao cadáver, que testemunham uma vontade de impedir a difusão da morte), que ela se considere e seja concebida como a dissolução total do ser ou como uma passagem para um além na vida (platonismo, cristianismo).
Platão faz dela uma libertação que permite a alma escapar da sua prisão corporal para conhecer o verdadeiro destino: “filosofar é aprender a morrer”. Na mesma perspectiva, a moral cristã da morte é antecâmara da vida eterna da alma.
Pascal convida os homens “todos condenados a morte” a fugirem do divertimento e a pensarem na sua salvação. Mas a certeza de morrer pode ser vivida como uma escravidão, ainda que tentemos consolar-nos. Schopenhauer, juntou-se a este desejo incompreensível da dimensão da morte e considera-a espécie que, em princípio tem assegurada a sua sobrevivência. Tal como já dizia Espinoza, não considero, então, a sabedoria do homem livre “numa meditação, não da morte, mas vida?
* Jornalista
In: a morte e a arte de silenciar