Isabel dos Santos coloca os traços nos “tés” e acusa Presidente João Lourenço de perseguição política

A empresária Isabel dos Santos disse que, nas eleições gerais de 24 de Agosto, não vou na UNITA e que está a viver uma perseguição política da parte do Presidente João Lourenço que quer mostrar ao mundo a família Dos Santos como troféu.

Em entrevista inédita à DW, depois de muitos anos em silêncio, a filha primogénita do falecido Presidente José Eduardo dos Santos disse que pode vir a ser candidata à Presidência da República, “caso surja essa oportunidade”, porque Angola “precisa de um novo futuro político” e acusou mesmo o governo angolano de ter passado informações falsas que serviram de base para o caso Luanda Leaks.

A filha do antigo Presidente da República, José Eduardo dos Santos denunciou que em Angola não há justiça e acusou mesmo o Presidente João Lourenço de perseguição política e de fazer da família Dos Santos um troféu para o mundo.

“Felizmente em todo trabalho que eu fiz na minha vida, eu sempre me comportei e pautei pela lei e nunca tive, digamos assim, problemas contratuais ou de ilegalidades. E hoje também não os tenho. O que hoje tenho é uma perseguição política”, denunciou apontando o dedo ao mais alto magistrado da Nação.

“O Presidente João Lourenço decidiu transformar a família Dos Santos numa espécie de símbolo. Ele quer provar ao mundo que o Presidente José Eduardo dos Santos foi um mau Presidente e que os filhos são os culpados. Isso é uma agenda política e perseguição política porque não há factos”, sustentou a fundadora da maior empresa de telecomunicações do país, a UNITEL, que em função dos processos resultantes do que diz ser perseguição política passou a esfera do Estado.

Em relação a actuação da justiça em Angola, a primogénita do falecido Presidente sublinha que não tinha noção das suas debilidades até se ver injustiçada por aqueles que o seu pai fez sempre o bem.

“Infelizmente, e isso é uma coisa que me deixa muito triste, o meu país não tem justiça. O nosso país não é um país de direito porque as leis não são cumpridas. Não é um país Democrático e de direito. É um país onde as leis não são cumpridas. O sistema judicial em Angola não é independente, há muitos atropelos a lei, há muitos problemas processuais e, talvez eu, antes disso me ter acontecido não tinha noção dessa gravidade. Hoje em dia tenho”, explicou.

“Hoje sei que em Angola viola-se muitos direitos humanos e eu digo e confesso que antes disso também não sabia. Mas hoje sei que há muitas pessoas e que eu não devo ser a única que têm os seus direitos violados”, sublinhou.

Candidatar-se à Presidência…
A empresária Isabel dos Santos disse que quer ser candidata à Presidência da República, “se a oportunidade surgir”, porque Angola “precisa de um novo futuro político” e diz acreditar que “há muitas pessoas” que vão estar com ela nessa batalha.

Em entrevista à DW, a filha do antigo Presidente da República, José Eduardo dos Santos diz que tem a visão de que o país precisa e considera que nem o MPLA nem a UNITA têm condições para representar essa viragem exigida pelos angolanos.

“Eu cresci em Angola, sou angolana, e quero servir o meu país… se um dia tiver oportunidade de transformar o meu país num país melhor, e ajudar a que tenha a visão que precisa, sim, darei esse passo e acredito que há muitas pessoas que estarão comigo”, aponta Isabel dos Santos.

Aquela que já foi a mulher mais rica de África diz ainda que a sua eventual corrida à Presidência terá sucesso em resultado das mudanças que ocorreram no país: “Angola mudou e precisamos de novas ambições e de um novo futuro político”.

E admite ainda poder vir a criar um novo partido em Angola que possa encarnar essa nova visão que diz ser necessária.

“Angola precisa de um partido novo, precisa de uma nova visão”, disse, acrescentando nesta entrevista à DW que os jovens, que são a esmagadora maioria da população, cuja média de idade é inferior a 20 anos, em Angola “não se revêem nestes partidos” históricos.

“Somos 32 milhões de pessoas, somos muitos!”

Sobre as críticas que tem lido nas redes sociais a seu respeito, como o facto de estar fora do país quando poderia dar a cara à luta, Isabel dos Santos responsabilizou a Procuradoria-Geral da República (PGR) pela sua ausência de Angola há vários anos.

A filha mais velha de JES explicou que nem sequer votou por não lhe ter sido possível e explicou que não está no país porque em Angola não pode ter salário, pagar água, luz, uma renda de casa…

“Eu não votei sequer… eu não estou em Angola porque em Angola não posso ter salário, não posso pagar renda, pagar a água…”, disse e sublinhou explicitamente: ” A PGR proibiu-me de ter qualquer rendimento para poder sobreviver em Angola”.

ACOMPANHE A ENTREVISTA NA ÍNTEGRA:
Isabel dos Santos em exclusivo à DW: “Ganhei muitos inimigos”

“Mesmo que quisesse ir a Angola, não poderia… Eu não posso ter um kwanza para poder comprar pão…”, acrescentou ainda a empresária que já dominou as maiores empresas angolanas, da Sonangol à UNITEL, tendo referido nesta entrevista que está a ser perseguida e acusada para que a sua quota na maior empresa de telecomunicações possa ser “vendida a amigos”.

E deixou ainda claro que nas últimas eleições, ao contrário do que foi vastamente divulgado, não apoiou a UNITA, tendo-se mantido “neutra”, admitindo, contudo, que o resultado foi envolto em “muita controvérsia”, especialmente porque não foram divulgadas as listas, como a oposição exigia.

“Nas últimas eleições mantive-me neutra… UNITA e MPLA são partidos históricos e eu não me revejo no que estes partidos históricos propõem. EU faço parte de uma nova geração. Respeito a luta de um e de outro, a sua história, mas não me identifico com estes partidos”, disse.

Sobre o MPLA, partido em que militou durante largos anos, Isabel dos Santos admite agora que se “tornou um partido corrupto” que não está à altura dos desafios do futuro.

“Angola precisa de um governo à altura. Hoje acredito que o partido que está no poder não é o partido certo para gerir as expectativas dos angolanos”, apontou ainda nesta entrevista conduzida pela jornalista Sandra Quiala, da DW.

E acrescentou: “Dificilmente nestas condições, enquanto o MPLA estiver no poder, haverá investimentos em Angola. É preciso uma mudança, os jovens precisam de empregos, de salários, de comprar casa. As famílias querem educar os seus filhos…”.

“O MPLA tornou-se num partido corrupto, tornou-se num partido, com vícios e que não respeita a lei”, acusou, embora seja público e notório que desde que o seu pai deixou o poder, em 2017, a sua relação com o partido sofreu uma forte degradação, especialmente depois de lhe terem sido abertos diversos processos por corrupção e desvio de dinheiros públicos, que a PGR diz atingir os 5 mil milhões de USD.

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