Em causa está uma polémica entrevista que concedeu à LUSA, na qual duvida da aplicação rigorosa da lei da amnistia, que alega vir a beneficiar cidadãos que serão escolhidos a dedo.
Um grupo de militantes do partido no poder contestam as declarações do antigo secretário-geral deste partido, Marcolino Moco, que considera que a proposta da lei da Amnistia aprovada pelo Conselho de Ministro no dia 10 deste mês, e que seguirá à Assembleia Nacional, servirá para “ilibar os que desviaram o erário”.
As contestações constam numa carta assinada por um grupo de militantes do Comité Provincial do MPLA em Luanda, que deverá circular nos próximos dias para repudiar o seu ex-militante e quadro, que duvida da proposta da lei da amnistia, cuja cópia o jornal Pungo a Ndongo teve acesso.
Na missiva, os mais de 50 subscritores, maioritariamente jovens, dizem que Marcolino Moco foi “muito infeliz” nas suas declarações, ao sugerir os cidadãos que devem ser amnistiados.
Para os militantes do MPLA, as declarações de Moco, que, dentre as várias funções, chegou a ser primeiro-ministro no Governo de José Eduardo dos Santos, são graves e demonstram frustração, por não ter conseguido os seus intentos no novo partido (UNITA) de que faz parte desde Agosto.
Na carta, de duas páginas, pedem que Marcolino Moco indique os cidadãos que diz conhecer e que serão beneficiários desta amnistia, que ainda não foi discutida e aprovada pelo Parlamento.
Os mesmos interrogam também as razões que o antigo secretário-geral do MPLA defende que se amnistie José Filomeno dos Santos (Zenu), filho do ex-Presidente José Eduardo dos Santos, e×-presidente do Fundo Soberano, o antigo ministro dos Transportes Augusto Tomás, e José (Zeca) Kamutxima, líder do denominado Movimento do Protectorado Lunda Tchokwe, ao contrário de outros réus abrangidos pela proposta da amnistia.
Os subscritores acusam ainda Moco, que também é advogado e professor universitário, de ser um dos que atiçam os jovens, sobretudo os do seu novo partido, para contestar, inviabilizar e destruir bens públicos, para denegrir a imagem do Governo e do Presidente da República, “de que nada se faz neste País”.
Investigação
Os militantes, sendo alguns da JMPLA, braço juvenil do partido que sustenta o Governo, reforçam que Marcolino José Carlos Moco devia estar sob investigação das autoridades portuguesas para explicar a origem dos bens, principalmente imóveis de luxo que possui em Lisboa e no Porto.
Acusam-no de ser um dos principais governantes beneficiários de “muita coisa” quando foi primeiro-ministro no anterior governo, reforçam sustentando que “hoje diz-se honesto e que nunca recebeu nada do Governo de José Eduardo dos Santos”.
De costas viradas
Desde que Marcolino Moco foi exonerado do cargo de primeiro-ministro pelo antigo Presidente da República, José Eduardo dos Santos, e despachado para Lisboa, onde foi secretário executivo da CPLP, durante sete anos, depois do fim de missão, foi acolhido pelo Parlamento, onde teve dois mandatos consecutivos pelo seu ex-partido do “coração”, as relações azedaram-se com o seu líder e com o seu ex-partido.
Em privado Marcolino Moco dizia que, durante a sua vigência como secretário executivo da CPLP, nunca tinha sido recebido pelo então Presidente da República, José Eduardo dos Santos, quando viesse a Luanda.
Depois de sair da Assembleia Nacional, o então secretário-geral do MPLA transformou-se num político crítico contra o seu próprio partido, e principalmente contra José Eduardo dos Santos, que o tinha catapultado para a ribalta, no partido e no governo.
Depois de uma penosa “travessia no deserto”, foi reabilitado pelo Presidente João Lourenço, mas contra todas as expectativas, abandonou o MPLA.
Por Pungo Andongo