O primeiro-ministro admitiu esta quinta-feira processar o ex-governador do Banco de Portugal Carlos Costa por ofensa à sua honra, depois de o antecessor de Mário Centeno dizer que foi pressionado para não retirar Isabel dos Santos do BIC.
Esta posição foi transmitida por António Costa aos jornalistas, à entrada para a reuniã da Comissão Política do PS, depois de confrontado com o teor de um livro do ex-governador do Banco de Portugal, Carlos Costa.
“A única coisa que eu posso dizer é que, como é sabido, através do Observador, foram proferidas pelo doutor Carlos Costa declarações que são ofensivas da minha honra, do meu bom nome e da minha consideração”, declarou o líder socialista.
O líder do executivo disse que contactou Carlos Costa e o ex-governador do Banco de Portugal “não se retratou nem pediu desculpas”.
“E, portanto, constituí como meu advogado o doutor Manuel Magalhães e Silva, que adoptará os procedimentos adequados contra o doutor Carlos Costa, para defesa do meu bom nome, da minha honra e consideração. É a justiça também a funcionar”, acrescentou.
O livro é lançado na próxima semana, dia 15 de Novembro, na Fundação Calouste Gulbenkian.
A acusação…
O ex-governador do Banco de Portugal afirma que Costa o pressionou a não afastar Isabel dos Santos da administração do BIC e terá dito que “não se pode tratar mal” a filha do Presidente de Angola.
No seu novo livro “O Governador”, o ex-governador do Banco de Portugal relata alguns dos momentos mais marcantes dos seus dois mandatos. Uma das revelações mais surpreendentes feitas por Carlos Costa envolve uma alegada pressão de António Costa.
Carlos Costa terá querido afastar Isabel dos Santos e o seu sócio, Fernando Teles, da administração do BIC — banco onde tinham uma participação de 20% — de forma a que o mercado não entendesse que o banco estava associado ao BIC Angola.
As razões de Carlos Costa prendiam-se com o facto de Isabel dos Santos ser uma “pessoa politicamente exposta por ser filha do presidente de Angola e por existirem fortes indícios de que fora favorecida pela plutocracia do MPLA”, já que “a acionista de referência de várias das principais empresas” angolanas.
“A reação do Banco de Portugal prendeu-se única e exclusivamente com as informações que os bancos começaram a passar ao supervisor e à Unidade de Informação da Polícia Judiciária e ao Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) sobre transferências suspeitas de Isabel dos Santos, dos seus irmãos e de outros representantes da plutocracia de Luanda”, lê-se no livro, citado pelo Observador.
Isabel dos Santos não gostou da recomendação, tendo-se refugiado na lei portuguesa, dizendo que nada a impedia legalmente de ser administradora do BIC e que estava ser discriminada por ser angolana. No entanto, Carlos Costa recusou mudar de ideias e ter-lhe-á lembrado que a “influência da plutocracia que reinava em Luanda não chegava ao Banco de Portugal”.
A filha de José Eduardo dos Santos terá feito queixa a vários rostos políticos portugueses, incluindo António Costa. O primeiro-ministro terá dito a Carlos Costa: “Não se pode tratar mal a filha do Presidente de um país amigo de Portugal“.
“Certo é que nem a pressão de António Costa, nem a de outros protagonistas da vida política portuguesa resultaram. Carlos Costa manteve a sua rota e Isabel dos Santos e Fernando Teles foram mesmo substituídos”, refere o livro.