Um “atrasado mental” nas fileiras da Polícia Nacional – Jó Soares

Divaldo Martins (Djuma) é um “atrasado mental” (mui) saudável de quem muito me orgulho por ter o grato privilégio de usufruir da sua sincera amizade desde os tempos em que se forjavam afectos verdadeiros de companheirismo e camaradagem. E já lá vão um par de décadas. Quem foi aluno da saudosa professora Gabriela Antunes e frequentou o curso de Jornalismo, no Instituto Médio de Economia de Luanda (IMEL), no alvor da década de 90, sabe o que significa ser “atrasado mental”.

O “atrasado mental” a que me refiro está muito para além do seu tempo, desde logo por ter uma capacidade intelectual, académica e técnica que, quanto a mim, deveria ser melhor aproveitada por quem de Direito. Ele tem uma visão holística e humanista em relação ao “mètier” que desenvolve há já alguns anos: O de garantir a Ordem, a Paz, a Segurança e a Tranquilidade públicas dos angolanos.

Foi bastas vezes combatido, à boa maneira da “Enciclopédia Soviética”, por ser um “atrasado mental” muito avançado para o contexto de Angola. Já sofreu toda a sorte de perseguições e humilhações por ser um homem de mente hodierna, aberta e arejada.

Este é o preço que se paga, em Angola, quando se é culto, inteligente e moralmente bem formado. Este é o custo de quem se recusa a ser bufarinheiro ou proxeneta político em Angola. Este é o sacrifício que demandam a ousada decisão e a inaudita coragem de não estar filiado a “clubes” como o MPLA ou a UNITA. Este é o castigo de quem se recusa a admitir que o MPLA e a UNITA são o Alfa e o Ómega da vida do Estado angolano.

A primeira vez que Divaldo Martins me surpreendeu (já lá vão um pouco mais de duas décadas ou perto disso) foi quando, a dado momento da sua trajetória, entendeu fazer uma opção de vida incomum debaixo do nosso “sol político” e que, convenhamos, fez toda (e mais alguma) diferença entre a geração de que faz parte: A de trocar o Jornalismo pelo sacerdócio de garantir a Ordem, a Paz, a Segurança e a Tranquilidade públicas; primeiro, como agente e, agora, como oficial superior da Polícia Nacional.

Pelo meio ficaram a devoção pelos exercícios físicos e a Literatura, razão pela qual nos vai brindando, sazonalmente, com a publicação de alguns livros de contos ou crónicas dadas à estampa nas redes sociais. O Jornalismo, este, perdeu um “atrasado mental” para a Ordem, a Segurança e a Tranquilidade públicas. Foi uma opção, que, apesar dos anos, ainda me recuso, terminantemente, a aceitar. Resta-me apenas o consolo de a respeitar e me conformar!

O “atrasado mental” a que me refiro está muito para além do seu tempo, desde logo por ter uma capacidade intelectual, académica e técnica que, quanto a mim, deveria ser melhor aproveitada por quem de Direito.
(DR)

O “atrasado mental” em causa anda, agora – com o prestimoso concurso dos seus comandados, pois claro! – a garantir a Ordem, a Paz, a Segurança e a Tranquilidade públicas na província da Huila. E as notícias que me chegam das serras da Chela exalçam ainda mais o meu orgulho, quando dão conta de que o trabalho que está a desenvolver por lá não é sofrível e que é benquisto entre os locais. Os seus comandados, diz-se à boca pequena, reverenciam-no por ser um “comandante-camarada” e não necessariamente um “camarada comandante”.

No período pré-eleitoral de 24 de Agosto, Divaldo Martins, enquanto comandante da Polícia Nacional na Huila, apelou aos militantes dos partidos políticos a respeitarem os jornalistas. Fê-lo num encontro no Lubango para discutir a segurança dos jornalistas durante o período eleitoral.

“Mantermos esse ambiente político cabe efectivamente aos partidos políticos o trabalho com as suas bases,(…) para que não olhem para o jornalista como um adversário, o jornalista é o intermediário do processo e merece a nossa protecção e a nossa salvaguarda”. Ora, digam lá se tenho ou não razão de sobra para me orgulhar de um “atrasado mental” que se preocupa com a segurança dos jornalistas em tempo de eleições e não só?

Há dias o ministro do Interior, Eugénio Laborinho, seguiu as peúgadas do meu amigo “atrasado mental”, exteriorizando o interesse de cultivar boas relações entre os jornalistas e o departamento ministerial que dirige. Fez muito bem, pois os bons exemplos devem ser seguidos. Mesmo que venham de um “atrasado mental”.

Destarte, o interesse manifestado por Eugénio Laborinho é, da minha parte, digno de nota de realce. Todavia, o mérito vai para o único “atrasado mental” mais saudável que conheço nas fileiras da Polícia Nacional: Divaldo Martins!

Quem dera (digo eu) ao País ter mais “atrasados mentais” como ele. Se os tivesse e houvesse sensibilidade e inteligência para se tirar partido da “loucura” de “atrasados mentais” da estirpe de Divaldo Martins, estou certo e seguro que Angola guindar-se-ia, em tempo record, aos píncaros do progresso que o povo há muito demanda!

Por Jornal O Kwanza

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