​​Debate na Band: O que é mentira nas declarações de Bolsonaro e Lula

Na noite do último domingo (16), os candidatos Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se enfrentaram pela primeira vez no segundo turno das Eleições de 2022. O debate foi promovido pela Bandeirantes em parceria com Folha de S. Paulo, Uol e TV Cultura.

Os dois candidatos que concorrem à Presidência trataram pouco de propostas e buscaram exaltar os números de suas respectivas gestões, passando por transposição do rio São Francisco; orçamento secreto; pandemia de covid-19; preço da gasolina e de alimentos etc. Ao entrarem no tema do desmatamento da Amazônia, os candidatos chegaram a desafiar os espectadores a conferirem os números no Google, mas ambos erraram ao mencionar os dados.

Confira a checagem do Yahoo! Notícias sobre algumas das afirmações dos candidatos.

Transposição do rio São Francisco
“Eu fiz 88% das obras do São Francisco, ele [Bolsonaro] fez 3,5%.”

Candidato ao Planalto e ex-presidente Lula (PT), no primeiro debate presidencial do segundo turno, em 16 de outubro de 2022

Não é verdade que 88% das obras do São Francisco foram feitas somente no período governado por Lula. Em abril de 2016, cerca de seis anos após o petista ter deixado o Planalto, 86,3% das obras da transposição estavam concluídas, segundo um relatório do Ministério da Integração Nacional. Naquele ano, o país ainda estava sob o governo de Dilma Rousseff (PT).

Antes de Bolsonaro assumir a Presidência, ao menos 96,4% das obras já haviam sido finalizadas, de acordo com dados de abril de 2017 da Integração Regional. Sendo assim, o atual presidente foi responsável por não mais do que cerca de 3,6% das obras.

“Pegamos uma obra [Transposição do rio São Francisco] parada por 10 anos.”

Presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL), no primeiro debate presidencial do segundo turno, em 16 de outubro de 2022

Ao contrário do que afirmou Jair Bolsonaro, as obras de transposição do rio São Francisco não estavam paradas desde 2010.

Em 2015, por exemplo, Dilma Rousseff (PT) inaugurou um trecho da obra em Cabrobó (PE). Já em 2017, Michel Temer (MDB), presidente à época, inaugurou o eixo leste do projeto de transposição.

Desmatamento na Amazônia

“No nosso governo, [houve] o menor desmatamento da Amazônia, e no seu é o maior todos os anos.”

Candidato ao Planalto e ex-presidente Lula (PT), no primeiro debate presidencial do segundo turno, em 16 de outubro de 2022

É falso que a menor taxa de desmatamento da Amazônia tenha sido registrada durante a gestão de Lula.

O menor índice ocorreu, na verdade, em 2012, no governo de Dilma Rousseff (PT). Naquele ano, foram desmatados 4,6 mil km² na Amazônia Legal, de acordo com o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). Nos anos em que Lula esteve no poder (2003-2010) as áreas devastadas variaram entre 27,8 mil km² e 7 mil km².

Embora a área desmatada na Amazônia esteja crescendo desde que Bolsonaro tomou posse, não é verdade que o maior desmatamento tenha ocorrido em seu governo. A maior taxa da série histórica foi registrada em 1995, no governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), quando foram destruídos 29,1 mil km².

No último ano da gestão de Michel Temer (MDB), em 2018, foram desmatados 7,5 mil km² de floresta amazônica, saltando para 10,1 mil km² já no primeiro ano do governo Bolsonaro. Em 2021, foram destruídos 13 mil km² de floresta, voltando ao patamar de 2008, quando o número registrado foi de 12,9 mil km².

“Você desmatou duas vezes e meio mais do que no meu governo Lula.”

Presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL), no primeiro debate presidencial do segundo turno, em 16 de outubro de 2022

Não é verdade que a gestão de Lula desmatou 2,5 vezes mais do que a de Bolsonaro. Nos três primeiros anos do governo de Lula (2003-2005), foram desmatados 72,2 mil km² da Amazônia Legal, enquanto no período correspondente do governo de Jair Bolsonaro (2019-2021), foram destruídos 34 mil km², segundo o Inpe. O desmatamento na gestão petista foi, portanto, cerca de 2 vezes maior e não 2,5 como afirmou Bolsonaro.

Além disso, quando comparado o primeiro e o terceiro ano das gestões de cada um, houve uma queda no período de Lula, passando de 25,4 mil km² em 2003 para 19 mil km² em 2005. Já na gestão de Bolsonaro, o desmatamento tem avançado, saltando de 10,1 mil km² para 13 mil km² em 2021.

Orçamento secreto

“Eu vetei [o Orçamento Secreto], derrubaram o veto.”

Presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL), no primeiro debate presidencial do segundo turno, em 16 de outubro de 2022

Inicialmente, Bolsonaro reprovou a criação do “orçamento secreto” e seu veto não chegou a ser derrubado pelo Parlamento. O mecanismo havia sido proposto pelo Congresso Nacional por meio da LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) de 2020.

Meses depois o Governo Federal voltou atrás e propôs a RP 9, conhecida hoje como “orçamento secreto”. A RP 9 foi criada por meio da lei nº 13.957, de dezembro de 2019, de autoria do Poder Executivo. O Estadão teve acesso ao documento enviado ao Congresso, que contou tanto com a assinatura de Luiz Eduardo Ramos, Ministro Chefe da Secretaria de Governo, quanto com a do Presidente da República.

O “orçamento secreto”, proposto pelo governo de Bolsonaro, passou a valer então a partir da LDO de 2020. Em relação ao novo projeto, o presidente vetou apenas o trecho que tornava obrigatória a execução dos gastos indicados pelo relator. Esse veto foi mantido pelo Congresso.

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