Os jornalistas angolanos têm denunciado nas últimas semanas um certo aperto à sua actividade.
Alguns foram detidos e outros intimados pelos serviços de investigação do Estado, por matérias divulgadas.
Há apelos, cada vez mais sonoros, para manifestações e protestos por parte da classe.
O caso mais recente foi a detenção do jornalista e correspondente da Voz da Alemanha (DW), Borralho Ndomba, quando fazia a cobertura de uma manifestação no passado dia 8.
Ante este cenário, a direcção do Sindicato dos Jornalistas Angolanos (STJ) reuniu-se com as chefias policiais e recebeu garantias do ministro do Interior de que os profissionais vão receber um tratamento diferenciado.
“É necessário que os jornalistas estejam muito bem identificados, para que a polícia os possa identificar melhor”, disse Eugénio Laborinho após um encontro com jornalistas, no qual o governante lamentou s prisões.
Promessas antigas
Fonseca Bengui, membro do SJA lembra que antes da reunião com o ministro, teinham feito o memos com o anterior titular da pasta e com o comandante da Polícia Nacional em Luanda, que deram a mesma garantia.
“Mas a prática da polícia tem sido a mesma, eu acredito que o problema não está na polícia, já que esta recebe ordens ou orientação de quem está acima deles, para continuar estas práticas”, afirma Bengui.
Para Luísa Rogério, presidente da Comissão da Carteira e Ética não é admissível que Angola mantenha estas práticas contra jornalistas.
“Não há nenhuma razão, nós não vemos motivos para que os jornalistas continuem a ser presos e levados para as esquadras em pleno século 21, 30 anos depois de Angola ter adoptado o sistema multipartidário e democrático, com todas as leis que temos que permitem o exercício da profissão”, lamentou Rogério.
O antigo jornalista e ex-deputado Makuta Nkondo, por seu lado, diz que a questão referida pelo ministro do Interior vem apenas esconder as reais motivações da perseguição de jornalistas.
“A questão ultrapassa a polícia, o MPLA sempre foi alérgico à verdade porque não são qualquer jornalistas que são presos, só os que primam pela verdade é que são incomodados, aquilo que o ministro Laborinho disse de falta de visibilidade dos jornalistas nos eventos, a polícia não sabe distinguir quem é jornalista quem não é, porque não estão identificados é uma pura mentira”, conclui.
Manifestações
O antigo presidente do SJA, Avelino Miguel diz também não acreditar nas palavras do ministro do Interior porque para ele a questão ultrapassa o ministro, mas lembra que os jornalistas têm outras ferramentas para pressionar o Executivo a mudar.
“Não seria um caso insólito no mundo, os jornalistas partirem para manifestação ou greve, o SJA, o MISA Angola, a Organização da Mulher Jornalista e outras deviam dar este passo, como sinal de que as coisas não estão muito boas no país neste sector”, desafia Miguel.
Manifestações ou greves que também são apoiadas por Luísa Rogério, para quem, “os jornalistas podem e devem recorrer a estes meios, se as negociações e o diálogo não resultam a manifestação pode sim, é um direito e está claramente consagrado, os jornalistas não são excepção”.
Quem também apoia a causa é o MISA-Angola
“O MISA, o SJA, a Comissão da Carteira e Ética podiam decretar 10 minutos em que não houvesse jornal, nenhuma rádio, nem sites, cancelar tudo, o país parava, devíamos combinar isso nas várias redacções, um dia apenas ninguém emite nada, refletirmos sobre esses abusos que sofremos porque isto está demais, já tivemos épocas em que éramos mortos”, conclui Guilherme da Paixão.
Numa nota emitida no dia 8, depois da prisão de Borralho Ndomba, o SJA disse considerar que “que as sucessivas detenções de jornalistas, por efectivos da Polícia Nacional, sem que haja da parte dos seus responsáveis quaisquer acções públicas de demarcação, legitima a impressão do Sindicato de existir ordens expressas para obstruir o exercício dos jornalistas”.
A nota concluiu que o “SJA não gostaria de acreditar na tese de que a Polícia Nacional, em Angola, é inimiga da liberdade de imprensa”.
Por Manuel José | Voz da América