Em protesto contra o uso do cabelo crespo: Ministro do Interior lamenta detenções de jornalistas e promete “tratamento diferenciado”

Após detenção do correspondente da DW durante um protesto em Luanda, o ministro do Interior Eugénio César Laborinho lamentou os impedimentos no exercício da actividade jornalística pela polícia e defendeu melhor identificação dos repórteres.

“Nos últimos meses, registamos a reclamação de alguns jornalistas, incluindo do Sindicato dos Jornalistas Angolanos [SJA], sobre o impedimento do exercício da atividade jornalística, por parte de alguns efetivos do Ministério do Interior, situação que lamentamos”, afirmou Eugénio Laborinho.

O governante, que falava durante um encontro com o SJA, na sede do ministério, em que foi abordada a detenção de jornalistas pela polícia, pediu “melhor identificação dos profissionais”.

No âmbito da cooperação institucional, espera que “o SJA apele aos jornalistas a estarem mais bem identificados, no exercício da sua atividade, para facilitar o trabalho das forças da ordem, permitindo tratamento diferenciado”.

O encontro foi solicitado pelo SJA na sequência de constantes relatos de detenções de jornalistas nos últimos meses, particularmente durante a cobertura de manifestações públicas, sendo que na manifestação, de sábado passado, foi detido, em Luanda, o correspondente da emissora internacional alemã Deutsche Welle, Borralho Ndomba.

O jornalista Borralho Ndomba, da DW, já em liberdade e que cobria a manifestação contra a imposição de cortes de cabelo nas escolas, foi detido com mais 14 estudantes.
(DR)

Marcha contra a imposição do uso de cabelo crespo
Borralho, já em liberdade e que cobria a manifestação contra a imposição do uso de cabelo crespo nas escolas, foi detido com mais 14 estudantes. A detenção do profissional que fazia a cobertura da manifestação foi reprovada, na ocasião, pelo secretário-geral do SJA, Teixeira Cândido, que pedia igualmente esclarecimentos das autoridades.

O ministro do Interior considerou ser importante a consolidação das relações entre o seu organismo e os jornalistas, referindo que “as missões de cada um refletem na atuação do outro”.

“Como é do vosso conhecimento, a classe jornalística precisa da ordem e segurança públicas para desempenhar eficazmente o seu trabalho, e as forças do Ministério do Interior precisam dos jornalistas para passar à sociedade as mensagens sobre o apoio que devem prestar aos órgãos de defesa, segurança e ordem interna”, defendeu.

Para o governante angolano, jornalistas e polícias “estão destinados a viver e conviver juntos” pois, argumentou, “ambos perseguem o objetivo comum de satisfazer as necessidades sociais dos cidadãos”.

Ações policiais têm bloqueado protestos em Luanda (foto de arquivo)
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“Difícil missão”
O Ministério do Interior “tem a difícil missão de fazer cumprir as leis, nos casos em que elas sejam violadas, assim como garantir o livre exercício dos direitos e liberdades dos cidadãos e das instituições públicas e privadas”, assinalou.

“Queremos que as relações entre o Ministério do Interior e os jornalistas angolanos e estrangeiros sejam excelentes em conformidade com os desígnios da lei”, rematou Eugénio Laborinho.

Teixeira Cândido, secretário-geral do SJA, e a presidente da Comissão da Carteira e Ética dos Jornalistas, Luísa Rogério, representaram os jornalistas neste encontro.

O ministro do Interior angolano defendeu melhor identificação dos jornalistas, principalmente na cobertura de manifestações públicas, para tratamento diferenciado
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Pelo Ministério do Interior, além de Eugénio Laborinho, estiveram ainda presentes o secretário de Estado do Interior, José Paulino, o comandante-geral da Polícia Nacional de Angola, Arnaldo Carlos, e o diretor-geral do Serviço de Investigação Criminal (SIC), António Benje.

Fonte: DW

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