O antigo coordenador do Batalhão de Transporte Rodoviário da Casa Militar da Presidência da República, general Eusébio de Brito Teixeira, negou ter recebido malas de dinheiro das mãos do comandante da Unidade, coronel Manuel Correia que, em confrontação, reafirmou no Tribunal de Comarca de Luanda ter entregue várias malas de dinheiro ao general nas suas residências de Cuando Cubango, Cuanza-Sul e Luanda.
A afirmação do também antigo governador do Cuanza-Sul foi feita nesta terça-feira, 11, na retoma do julgamento do conhecido “Caso Lussaty”.
Chamado a depor na condição de testemunha, o general Eusébio de Brito Teixeira disse que “se o coronel Manuel Correia diz que entregou-me malas de dinheiro ele deve dizer aqui onde, como, quando, porquê e quais eram as testemunhas”.
Teixeira negou também a existência de um despacho emitido pelo general Hélder Vieira Dias “Kopelipa” a orientar a inserção de pessoal para a Casa de Segurança.
“Não era possível enquadrar por querer enquadrar sem que os superiores orientassem, porque senão quem vai assumir com os salários?”, perguntou Teixeira.
Questionado se conhecia o major Pedro Lussati, Eusébio de Brito Teixeira, disse que ouviu na imprensa.
“Nunca conheci Pedro Lussati de forma alguma”, assegurou o general e quando interrogado sobre a elaboração das folhas de salários daquela unidade, respondeu: “Só ele (coronel Correia) pode dizer onde elaborava as folhas de salários”.
Ele acrescentou que “não é autorizado este acto (inserção de pessoas na folha de salário), porque tudo que entra tem de ser autorizado pelo chefe da Casa Militar”.
Questionado como era feito o recrutamento naquela unidade no Cuando Cubango, Eusébio de Brito Teixeira afirmou que “tudo tem nível e não podemos enquadrar só porque queremos enquadrar”.
O coronel Manuel Correia disse anteriormente no tribunal que existiam batalhões “fantasmas” do exército no Cuando Cubango, cujos pagamentos eram feitos com dinheiro transportado em malas.
Correia revelou que esse movimento era controlado pelos generais Eusébio de Brito Teixeira e António Mateus Júnior de Carvalho “Dylangue”, sob conhecimento do general Manuel Hélder Vieira Dias Júnior “Kopelipa”.
Nas folhas de salários estavam incluídos salários de funcionários públicos daquela província e familiares de funcionários da brigada de desminagem.
As malas de dinheiro que sobravam, do pagamento em mão dos militares e funcionários da brigada de desminagem, regressavam a Luanda e eram entregues aos generais e outros militares a mando superior.
Na suas declarações, Eusébio de Brito Teixeira disse que trabalhou com Manuel Correia de 2004 até a unidade ser extinta e perguntou “como é que estes senhores faziam parte da casa militar?”
Reiterou desconhecer a inserção de bancários e activistas ligados ao MPLA, e conta que teve de intervir junto do coronel Manuel Correia para que retirasse o nome da sua filha da folha de salários.
“Eu não permiti e exigi que tirasse o nome da minha filha, resistiu à primeira, segunda vez é à terceira lhe disse que não assinaria mais as folhas”, afirmou Brito Teixeira, que também esclareceu o objectivo da criação daquela Unidade “política”, para “o reenquadramento social das populações abandonadas pela UNITA”.
“O Estado tem essa obrigação”, concluiu.
Confrontação
O coronel Manuel Correia, preso no processo, lamentou as declarações do general que considerou “chefe e pai”.
“Quem elaborava as folhas de salários não era eu”, disse, acrescentando que “recebia dos activistas, só passava a limpo e assinava” e “muitos deles eu não conhecia”.
“Nunca levantei dinheiro e não sei onde fica a caixa-forte do BPC, eu ligava para o general Eusébio ou para o tenente Dilangue para planificação do voo sempre que Luanda mostrava disponibilidade de verbas”, reiterou.
Em relação às malas de dinheiro, o coronel esclareceu que entregava o dinheiro nas mãos de Geraldo Neves, escolta do general Eusébio de Brito Teixeira.
Ele revelou que Neves estava detido com ele no Cuando Cubango, mas nem consta nos autos, nem como testemunha, e desafiou o tribunal: “Chamem-no para vir aqui esclarecer”.
Nesse momento, Teixeira interrompeu as declarações do coronel, afirmando “diga o local e a quem entregavámos”.
“Entregava na residência do chefe, pessoalmente no Cuando Cubango, no Cuanza-Sul e entregava na casa do chefe em Luanda”, respondeu o coronel, com o juiz a querer saber se Manuel Correia conhecia a casa do general Eusébio de Brito Teixeira.
“Ele é meu pai não sei porque é que ele não quer dizer”, respondeu o coronel, lamentando “e é pena que estamos na cadeia”.
O caso
O julgamento do “Caso Lussaty”, que decorre há mais de dois meses, foi retomado nesta terça-feira depois de uma curta suspensão e nos próximos dias vários altos dirigentes do regime serão ouvidos, entre eles o antigo chefe da Casa Militar no consulado de José Eduardo dos Santos, general Hélder Vieira Dias “Kopelipa”.
O major Pedro Lussaty foi detido na “Operação Caranguejo” na posse de milhões de dólares e euros, bem como vários imóveis no país e no exterior e carros de luxo.
Ele e meia centena de arguidos são acusados de crimes de peculato, associação criminosa, recebimento indevido de vantagens, participação económica em negócios, abuso de poder e também de fraude no transporte ou transferência de moeda para o exterior do País, comércio ilegal de moeda, falsificação de documentos, branqueamento de capitais e de falsa identidade.