A academia sueca atribuiu esta quinta-feira o prémio Nobel de literatura à francesa Annie Ernaux. Conhecida pela sua escrita intimista, a autora francesa foi recompensada pela academia pela “coragem e acuidade clínica que demonstrou ao revelar as raízes, o distanciamento e as restrições colectivas da memória pessoal”.
Numa primeira reacção, a autora considerou que se trata de “uma honra muito grande” e também de uma “grande responsabilidade” que lhe é concedida de dar um testemunho “de uma forma de rectidão e de justiça em relação ao mundo”.
Depois de Jean-Larie le Clezio em 2008 e de Patrick Modiano em 2014, sem contar outros autores franceses também galardoados num passado mais longínquo, o júri da academia sueca optou uma vez mais por recompensar um escritor gaulês. A escritora Annie Ernaux era pressentida para este galardão a par de outro autor francês, Michel Houellebecq.
Aos 82 anos, Annie Ernaux é considerada aqui em França um ícone do feminismo, baseando boa parte da sua obra nas suas experiências pessoais de mulher face às regras da sociedade do pós-segunda guerra mundial em que se insere, num olhar marcado pelo franco desenvolvimento das ciências sociais em França nos anos 50 e 60, nomeadamente o trabalho do sociólogo Pierre Bourdieu que efectuou pesquisas sobre a distinção entres as classes sociais.
Numa escrita simples, sem tabu e sem lirismo, ela fala da sua mudança de condição social, a passagem de uma infância na classe popular na Normandia para o estatuto de professora de literatura nomeadamente no livro “Les armoires vides” publicado em 1974 e também “La place” editado em 1984, uma paixão em “Passion simple” em 1992, um aborto no livro “L’évenement” editado no ano 2000, ou mais recentemente, um pequeno conto, “Le jeune homme”, editado este ano, sobre um efémero relacionamento com um homem mais novo.
Instalada desde 1977 em Cergy-Pontoise, na região parisiense, ela escreveu igualmente várias obras retratando esta cidade e os seus habitantes, sublimando e dissecando momentos aparentemente banais do seu quotidiano.
Apesar de ter recebido prestigiosos prémios literários aqui em França e de ter um percurso reconhecido designadamente com a adaptação de duas das suas obras para o cinema, a escritora continua a viver de forma discreta e disse ainda recentemente em entrevista “sentir-se um pouco ilegitima no meio literário” e apenas se encarar como “uma mulher que escreve, só isso”.