Análise: O factor “tribalismo” na Frelimo

O XII Congresso da Frelimo cumpre nesta segunda-feira, 26, o seu quarto dia, com o partido pressionado a fechar o ciclo de divisão do poder através das tribos, enquanto analistas políticos dizem que se o factor makonde deixar de ser determinante, neste particular, esta será a vez do centro.

Algumas das províncias desta região têm votado esmagadoramente na oposição.
Depois da independência de Moçambique, em 1975, o país teve três presidentes da zona sul do país, Samora Machel, Joaquim Chissano e Armando Guebuza, e esta realidade só se alterou na sequência da eleição de Filipe Nyusi, do norte, para Presidente da República.

Em alguns círculos de opinião, afirma-se que a escolha de Nyusi traduz um compromisso da própria Frelimo, face a reclamações do centro e norte, de que estavam a ser marginalizadas na divisão do bolo, porque a zona sul foi sempre a mais beneficiada.

Influência dos makonde

Em termos formais, a indicação do candidato da Frelimo às eleições presidenciais de 2024 não faz parte da agenda deste congresso, mas analistas políticos asseveram que, de alguma forma, este assunto vai merecer algum tratamento, porque o próximo ciclo eleitoral constitui um dos maiores desafios do partido.

Os observadores dizem que se nota, neste momento, uma forte influência tanto política quanto económica da tribo makonde, do Presidente Filipe Nyusi, receando-se que possa ser determinante na escolha do candidato da Frelimo às próximas eleições.

Mas o jornalista e analista político Luís Nhachote diz que desta vez o candidato virá do centro porque neste momento “é preciso fechar o ciclo de tribo da divisão do poder numa base tribal, e a Frelimo vai encontrar um candidato que seja da zona centro, Manica, Sofala, Tete e Zambézia”.

Estes ciclos eleitorais têm sido bastante difíceis para a Frelimo, sendo que, por exemplo, nas assembleias das autarquias de Quelimane e Beira, nas províncias de Zambézia e Sofala, respectivamente, este partido está na oposição.

No calor dos debates sobre o hipotético terceiro mandato de Filipe Nyusi, houve quem considerasse que isso seria a violação do compromisso da própria Frelimo quanto à indicação dos presidentes da República em função das regiões do país, embora haja quem afirme que isso não resolve o problema do tribalismo, que é real em Moçambique.

Para o jornalista e analista político Tomás Vieira Mário, a maior derrota da Frelimo tem sido o facto de não conseguir resolver o problema do tribalismo/regionalismo.

Frelimo nas mãos de Nyusi

De forma recorrente, pessoas do centro e norte têm questionado porque é que estas regiões têm sido as menos beneficiadas em termos de iniciativas de desenvolvimento, e porque é que os presidentes da República têm sido maioritariamente no sul.

O analista político Luís Loforte diz existir um compromisso ancestral da Frelimo, “mas para ter havido este compromisso não escrito mas que nós sabemos e sentimos que houve, quer dizer que são pessoas que se entendem, ou seja, a indigitação de Nyusi pode ter também obedecido a um interesse do sul em coordenação com o norte”.

A expectativa agora é ver até que ponto isso se pode materializar dentro de um partido fortemente controlado pelo Presidente Filipe Nyusi e com as diferentes tendências da Frelimo fragilizadas, como a do antigo Presidente Armando Guebuza.

Tomás Vieira Mário diz que após o XII congresso, a Frelimo será um partido muito controlado por Filipe Nyusi, “basta ver como foi eleito o presidente e decorreram as conferências provinciais, foi um unanimismo incrível em que todos os secretários provinciais foram reconduzidos sem qualquer contestação”.

“Isto quer dizer que o Presidente Nyusi quis manter um congresso fiel a si próprio e, naturalmente, este congresso vai eleger um Comité Central à imagem e semelhança do Presidente”, realça aquele analista.

O congresso do partido no poder termina na quarta-feira, 28, e no sábado reelegeu Filipe Nyusi como presidente com 100 por cento dos votos dos delegados.

Fonte: Voz da América

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